Ao passar perto de uma escola do
2º e 3º ciclo com um número bastante elevado de alunos, como é habitual em
zonas suburbanas, verifiquei que, apesar
de estarmos em horário escolar, um número significativo de alunos deambulava
pelos espaços da escola ou pelas imediações.
Presumo que tal situação não se
devereria a absentismo de docentes pois as escolas costumam acautelar essa
questão com actividades de substituição.
Acho que muitos dos alunos que vi
fora das salas de aula estão a caminho de perder a condição de
"estudantes", e estarão em vias de passar a "escolantes", ou
seja, os que já só vão à escola, já não estudam.
É verdade que este cenário
costuma tornar-se mais evidente a partir do meio do segundo período, quando as
expectativas de sucesso começam a baixar significativamente e levam à
desmotivação, primeiro, e posteriormente para muitos, ao deixar de aparecer nas
aulas, não vai servir de nada, já perderam o comboio, já "não vão lá". São os grandes candidatos ao empurrão para o ensino vocacional, não servem para o trabalho intelectual.
No entanto, continuam a
deslocar-se diariamente para a escola, é lá que estão os seus amigos e, apesar
de tudo, é lá que eles acham que devem estar apesar dos discursos negativos e
agressivos que produzem com frequência sobre a escola. Ninguém gosta do
fracasso, os discursos e os comportamentos nas mais das vezes mascaram o mal
que se sentem pelo fracasso escolar e pelo que isso significa.
A tarefa de alunos e professores
não é, longe disso, uma tarefa fácil. Com o irresponsável aumento do número de
alunos por turma e o abaixamento dos recursos docentes que permitam a montagem mais eficaz de dispositivos de
apoio a alunos e professores, bem como a aposta numa organização curricular que
através da definição de metas curriculares incapazes (na forma como estão
formuladas) de acomodar diferenças e ritmos individuais e a obsessão pela
medida, os exames, como poção mágica, temo que mais cedo e em maior número
comecemos a ver os escolantes nas escolas e à volta delas.
Gostava de estar mais optimista
mas não vejo como.
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