Segundo os últimos dados conhecidos, Portugal tem cerca
de 440 000 jovens entre os 15 e os 34 anos que nem estudam nem trabalham, um
grupo social que vai sendo designado por geração “nem, nem”, um termo e uma
dimensão devastadora que nos deveria embaraçar.
De facto, o desemprego jovem em Portugal é quase
o dobro da média da UE e a taxa de abandono escolar é ainda preocupante.
Acresce ainda que se está a verificar também a utilização
abusiva e escandalosa de estágios profissionais não remunerados, sobretudo de
jovens qualificados, situação que permite aos empregadores aceder a mão-de-obra
gratuita por alguns períodos de tempo que podendo ter impacto nas estatísticas
não muda a vida das pessoas.
Vale a pena recordar também que, em Janeiro e
segundo o EUROSTAT, Portugal era o quinto país europeu, dos 21 considerados, em
que mais jovens entre os 25 e os 24 vivem com os pais, 46 %. Para comparação,
Dinamarca, Suécia e Finlândia têm percentagens inferiores a 5 %.
Este cenário não é mais grave porque 100 000
jovens, sobretudo qualificados, estão a sair do país, emigrando para outras
paragens e tem um custo brutal, cerca de 2 700 milhões de euros, 1,57 % do PIB.
A emigração parece assim constituir-se como via quase exclusiva para aceder a
um futuro onde caiba um projecto de vida positivo e viável como tem vindo a
verificar-se.
Acresce que de acordo com um Relatório da
Organização Internacional do Trabalho em 2011, 56 % dos jovens portugueses com
trabalho têm contratos a prazo. Há algum tempo uma informação do Banco de
Portugal referia que em cada dez empregos novos para jovens, nove são
precários.
Segundo um estudo da CGTP, 51% dos jovens com
menos de 25 anos ganha menos de 500 € e 24,5% dos jovens entre os 25 e os 35
recebe também menos de 500 €. Este cenário evidencia a enorme precariedade do
trabalho e baixa qualificação do mesmo.
A precariedade nas relações laborais quase
duplicou na última década. Portugal é o segundo país da Europa, a seguir à
Polónia, com maior nível de contratos a prazo. Por outro lado, as políticas de
emprego em curso incluem maior flexibilização das relações laborais.
Neste cenário, os desequilíbrios fortíssimos
entre oferta e procura em diferentes sectores, a natureza da legislação laboral
favorável à precariedade e insensibilidade social e ética de quem decide,
promovem a proletarização do mercado de trabalho mesmo em áreas especializadas
ou mesmo o recurso a uma forma de exploração selvagem com uma maquilhagem de
"estágio" sem qualquer remuneração a não ser a esperança de vir a
merecer um emprego pelo qual se luta abdicando até da dignidade.
Acontece ainda que alguns dos vencimentos que se
conhecem, atingindo também camadas altamente qualificadas, não são um
vencimento, são um subsídio de sobrevivência. É justamente a luta pela
sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de
desemprego e à entrada no mundo do trabalho sem margem negocial, altamente
fragilizadas e vulneráveis, que entre o nada e a migalha "escolhem
amigavelmente" a "migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um
emprego no fim de período de um indigno trabalho gratuito. Como é evidente esta
dramática situação vai de mansinho alargando e numa espécie de tsunami vai
esmagando novos grupos sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático é que as pessoas
são "obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso, as pessoas são
activos descartáveis.
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