terça-feira, 12 de novembro de 2013

A TUA CARREIRA POR 350 PALAVRAS E 20 EUROS. NÃO, NÃO PODE VALER TUDO

Hoje conhecemos mais um episódio da, como agora se diz, narrativa que podemos designar como MEC à deriva no capítulo "Exame de acesso à carreira docente, perdão, Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades em mais uma habilidade de manhosa com as designações. Antes, uma pequena introdução.
De uma forma pouco sustentada, do meu ponto de vista e como várias vezes tenho afirmado, o MEC estabelece o exame de acesso à carreira docente, perdão a Prova de Avaliação  Conhecimentos e Capacidades, para todos os professores que não tenham vínculo à função pública o que cria a incompreensível situação de milhares de professores com muitos anos de prática avaliada positivamente terem de se submeter a essa prova que, obviamente, não avalia de forma alguma as Capacidades de um professor, tal objectivo consegue-se com prática acompanhada e não com uma prova de conhecimentos e capacidades.
Neste contexto, foi hoje divulgado que a componente comum deste exame será constituída por uma só questão, "de desenvolvimento" na gíria da avaliação, e terá entre 250 e trezentas palavras como limite na resposta. Notável.
Depois da deriva sobre o impacto do exame e dos pagamentos para sua realização, o MEC assume o despudor e a incompetência de entender que avalia num texto com 350 palavras no máximo, estas notas têm 393 palavras, as "Capacidades", isto é, as competências e qualidades de um professor para além dos aspectos científicos que constituem a componente específica da prova. Relembro que estamos, também, a falar de professores com muitos anos de experiência e com prática avaliada positivamente. Não sei se fico envergonhado, muito, se indignado, muito.
Ficámos também a saber que alguns professores correctores dos exames nacionais estão a ser convidados pelo MEC para examinar os seus colegas recebendo 3 € por resposta corrigida podendo avaliar até 100 provas. Estes professores irão avaliar em 350 palavras se o seu colega do lado com vários anos de experiência, avaliado ao longo dos pode, ou não, aceder à carreira da qual tem feito funcionalmente parte funcional ainda que na situação de permanente descartável.
Do meu ponto de vista é a cereja em cima do bolo da incompetência e da indignidade deste processo.
Não estou profissionalmente envolvido nesta situação, por isso, talvez cometendo um abuso, creio que os professores "séniores" não deveriam colaborar num processo desta natureza e com estes objectivos e formato.
Não pode valer tudo.

2 comentários:

Ana disse...

Este devaneio do MEC é verdadeiramente surreal, para não adjectivar de modo mais grosseiro, por isso tenho esperança que se concretize o que vou ouvindo em meu redor desde que foi marcada a data desta prova, ou seja, que nenhum professor do quadro se disponha a colaborar em qualquer etapa deste infame processo.
Começaram a chegar os convites para a classificação das provas e, até agora, têm merecido o escárnio e a repulsa de todos os convidados.
Sou professora há 29 anos [mas só o seu post me fez consciencializar quão sénior!:-)] e nunca imaginei que se batesse tão fundo no descalabro que foi tomando conta dos destinos da Educação em Portugal, ao longo da minha vida profissional. Tenho tido a felicidade de não adoecer e não precisar de faltar há anos, mas, depois de enjeitar qualquer convite desta natureza, já fiz saber que nem se atrevam a convocar-me para coisa tal, pois prevejo que vá ficar com um quadro de vómitos e diarreia tão gravoso que fique impedida de cumprir o que me encomendarem. É que, apesar de versátil, como têm obrigado todos os professores a ser, tenho umas entranhas muito sensíveis aos ditames da putrefação do sistema educativo.
Oxalá haja uma verdadeira epidemia diarreica no grupo dos que, eventualmente, venham a ser convocados, por falta de voluntários para o serviço! Afinal, como séniores, temos mais debilidades... para além de mais competência, segundo parece querer o MEC salientar.

Anónimo disse...

Para além da situação ser ridícula,pois em mais nenhuma profissão isto se verifica, para além dos professores terem que estar sempre atualizados e constantemente a mudarem de estratégias de acordo com os currículos que estão em constante reformulação, o estado vislumbra mais um meio para poder sacar dinheiro aos contribuinte neste caso aos professores, pois ao cobrarem 20 euros pela realização da prova e a pagarem 3 euros ainda ganham 17 euros. Ridículo, para quê o esforço de anos a estudar para obter uma boa média.