O texto de Paulo Guinote no Público coloca uma interrogação cada vez
mais pertinente, "os alunos serão alunos ou clientes?", ou seja, a
educação torna-se cada vez mais uma área de negócio ou o ensino público
continua como algo de verdadeiramente estruturante de um estado com
responsabilidade ética e defensor da coesão social e da equidade?
O sentido da resposta parece-me claro. De forma
determinada o Ministro Nuno Crato vai cumprindo a sua agenda cada vez mais
explícita, o financiamento do ensino privado à custa da degradação e
desinvestimento do ensino público sob o princípio da liberdade de escolha, ou
seja, um forte apoio ao negócio da educação.
Neste sentido, como já afirmei, compreende-se que
para o OGE de 2014 para a Educação as verbas destinadas a financiar sob
diferentes formas o ensino privado sejam reforçadas. Para além da inacreditável
possibilidade de estabelecer contratos de associação ainda que exista
ensino público com oferta educativa disponível na mesma área, teremos o
cheque-ensino já com uma dotação de 19.4 milhões de euros e a desenvolver em
termos experimentais. Em modo MEC, período experimental quer dizer
pré-generalização como se verificou com o ensino vocacional que antes da
avaliação entrou em generalização.
A experiência do que têm sido tais práticas de
liberalização noutra paragens e o conhecimento dos territórios educativos
portugueses sugerem que na verdade percorremos um caminho de privatização da
educação transformando-a num serviço que as famílias compram de acordo com as
suas possibilidades económicas para os verdadeiros clientes desse serviço, os
mais novos.
Aliás, parece-me claro que a cultura mais
generalizada entende os estabelecimentos de ensino privado como exclusivos e
muitos deles são profundamente selectivos na população que acolhem, o que leva,
justamente, muitos pais a escolher "comprar",
por assim dizer, essa exclusividade, que só por existir já é um negócio, um bom
negócio.
O problema grave e inquietante é que a maioria
das famílias terá de manter os seus filhos nas escolas públicas que sofrendo
forte desinvestimento terão menos recursos, apoios e autonomia e em que os
professores serão obrigados a funcionar num registo de "contents
delivery" a turmas enormes de clientes pouco abonados que através de
sucessivos exames passarão por uma espécie de "darwinismo educativo"
sobrevivendo os clientes mais fortes, sendo os mais fracos enviados para o
"trabalho manual".
Sopram ventos adversos. Os clientes mais
"favorecidos", para utilizar um eufemismo frequente, comprarão bons
serviços educativos e os menos "favorecidos" ... assim continuarão. É
o destino.
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