Uma das expressões que se ouve
frequentemente a quem lida com miúdos e adolescentes é "vive lá no mundo
dele". Quase sempre significa que se está perante uma criança ou adolescente
cuja forma de estar e de ser não se ajusta bem ao ... nosso mundo, seja lá isso o que for, escola, casa, rua, etc. Tal situação
pode decorrer de capacidades ou competências por parte das crianças, diferentes evidentemente, de circunstâncias de vida ou de contexto ou ainda da
comparação que fazemos com o que entendemos que é o mundo em que a criança
deveria "viver".
É evidente que muitas vezes estas
apreciações decorrem de bem intencionadas e genuínas preocupações com a criança e com o seu bem estar entendo
que o ele não estivesse "lá no mundo dela" e estivesse no
"nosso" mundo estaria bem melhor.
É aqui que começam as minhas
dúvidas. Em primeiro lugar não tenho nenhuma convicção que em algumas circunstâncias
o "mundo" que preparamos e oferecemos aos miúdos não é lá grande coisa,
não os protege, maltrata-os, discrimina-os, não os compreende, rouba-lhes os
direitos e o futuro. Mais grave é que muitas vezes tudo isto vem de quem justamente,
lhes deveria abrir a porta do mundo e cuidar da sua estadia nesse mundo.
Por outro lado, acho que nem
sempre fazemos o suficiente para espreitar o "mundo " em que a
criança vive, de que é feito e o que poderá levar a que a criança porquê a
criança "lá" viva.
Finalmente, tenho uma outra dúvida. Será que aqueles
miúdos e adolescentes que vivem "lá no mundo deles" se interrogam e
inquietam com a quantidade de adultos que mostram uma forma de ser e de estar estranha
e muitas vezes incompreensível parecendo mesmo que ... vivem "lá no mundo
deles"?
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