Era uma vez um Homem. Sujeito para além dos
cinquenta anos, tinha a vida que quis construir, dentro do que podia construir,
tinha uma mulher com quem, costumava dizer, ainda namorava, tinha os filhos já
orientados, algo que deixa qualquer pai tranquilo, tinha um trabalho de que
gostava, tinha-o aprendido com o pai, tinha um pequeno mas sólido grupo de
amigos, enfim, o Homem estava feliz com a estrada que tinha andado e confiante
na estrada que tinha para andar.
A certa altura, começou a ouvir que a empresa não
estava muito bem e que poderiam surgir alguns problemas. Como todos os
companheiros ficou preocupado, mas também acreditava que a sua história o
ajudaria a ficar protegido desses problemas.
Um dia, foi chamado e um jovem desconhecido,
apresentou-se como elemento de uma consultora que estava proceder à
reestruturação da empresa, com a mesma frieza com que o cumprimentou, disse-lhe
que a empresa iria prescindir dos seus serviços com base, sobretudo, na idade.
De facto, o Homem ficou a saber que a sua idade o impediria de se “reciclar”,
de se “readaptar funcionalmente”, de se envolver em “processos de
modernização”, ou seja, tinha terminado o seu prazo de validade.
O Homem saiu e, contrariamente ao que era
habitual, não foi logo para casa. Passeou um pouco ao acaso e com uma frase a
martelar constantemente na sua cabeça “não podiam roubar-ma, não me podiam roubar-ma,
não podiam roubar-ma, não podiam ...
Quando entrou em casa, sentou-se no seu canto do
sofá e nunca mais se levantou. Era a dignidade que mantinha o Homem de pé,
roubaram-lha.
Sem comentários:
Enviar um comentário