Bom dia, Sra. Professora, sou a mãe do Zé Francisco, ele disse-me que queria falar comigo mas não me
disse porquê.
Bom dia, é verdade, não disse ao Zé Francisco mas eu e os meus colegas
estamos preocupados com ele.
Porquê? Ele fez alguma asneira?
Não, ele porta-se bem, a questão é que parece ter dificuldade em
acompanhar os colegas, parece com dificuldade em compreender algumas das
matérias que ensinamos.
Pois ele às vezes pede ajuda lá em casa mas a Sra. Professora sabe, nem
eu nem o meu marido estudámos, a gente não o sabe ajudar. Aqui na escola não
podem dar-lhe assim uma ajuda, já ouvi falar que há meninos que têm apoio de
outros professores.
Pois mas para o Zé Francisco vai ser difícil, agora temos menos
professores para dar esses apoios e têm que olhar primeiro para os alunos com
mais dificuldades.
E assim nas aulas, não podem ver se ele percebeu bem?
Nós bem queríamos ter mais tempo para ajudar os alunos, mas na turma do Zé Francisco são 26 alunos, todos
muito diferentes, temos uma menina que compreende mal o português e estão lá
três meninos com necessidades especiais, o que nem pode acontecer mas não conseguimos
fazer de outra forma. É impossível dar alguma atenção a um aluno, temos os
outros todos a espera.
Pois é, mas gostava tanto que o Zé Francisco estudasse um bocado mais
do que eu e o meu marido. Ele parece um rapaz esperto, lá em casa ajuda o pai
mesmo em coisas que pessoas mais velhas
não fazem bem.
Eu percebo, mas aqui na escola não conseguimos fazer melhor. Não tem
quem lhe possa dar um ajuda?
A minha sobrinha anda numa explicação mas eu não posso pagar o dinheiro
que custa, eu estou desempregada e é só o meu marido a ganhar. Aqui na escola
também já ajudam menos no SASE. Foi muito difícil conseguir comprar tudo para
este ano, são mais coisas do que quando andava no 4º ano. Mas fazemos
sacrifícios para ver se o Zé Francisco era alguém, ele diz que gosta de
estudar.
Eu compreendo minha senhora, mas não podemos fazer mais, veja lá o que
pode fazer.
...
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