domingo, 16 de junho de 2013

PERFILADOS DE MEDO

Nestes dias de chumbo parece estar a instalar-se de mansinho, mas de forma progressivamente mais perceptível, um sentimento que me parece inquietante, um sentimento de medo.
Em consequência de políticas e valores extraordinariamente agressivos e pouco centradas nas pessoas, estas sentem-se ameaçadas  e sentem que está em causa muito do que, com maior ou menor realismo, sentiam seguro para si e para os que lhes estão próximos, o trabalho, uma imagem de futuro, a ideia de que "se depender de mim, vai correr bem".
Todos os dias se ouve falar da precarização das relações laborais, do aumento do desemprego, dos despedimentos com a maior das ligeirezas, como se não estivéssemos a falar de pessoas e devastadoras situações de pobreza e indignidade. Muitos de nós começam a pensar "quando me vai tocar a mim?", "o que vai acontecer ainda?".
Das lideranças, de quem se espera que promovam visão e confiança, apenas surgem discursos de mais dificuldades e de uma insensibilidade que não parece de gente que gere os destinos de outra gente.
Os discursos que se ouvem e muitos comportamentos que se observam são de medo, um pequeníssimo passo antes da raiva de quem já não tem nada a perder.
Lembrei-me das letras do O'Neill cantadas pelo José Mário Branco, agora parecemos estar a ficar perfilados de medo.
E a seguir?
 
(...)
Perfilados de medo, sem mais voz
o coração nos dentes oprimido
os loucos, os fantasmas somos nós
(...)


 
 
 

1 comentário:

Anónimo disse...

Não. nós já não somos pessoas, nem sequer números, nem gado. Somos coisas descartáveis que nem servimos para ser reciclados. Lixo, sim, lixo. Medo? sim, a princípio, agora já não. Roubaram tudo, só não me roubam a dignidade porque eu não deixo. Prefiro morrer. Bem haja Zé Morgado pelo seu espírito lutador.