O Ministro Nuno Crato, provavelmente inspirado pelo seu passado maoista, determinou a longa marcha dos professores para as escolas no dia 17, esse, o tal, o da greve ao exame de Português do 12º ano.
Assim, ordenou que todos os professores, cerca de 115 000, de todos os níveis de ensino, numa longa marcha a iniciar cedinho se apresentem na sede dos respectivos agrupamentos para, naturalmente, tentar que deste universo se possam encontrar os cerca de 10 000 necessários à realização do exame. Pode acontecer que tal aconteça ainda que em condições menos positivas, tranquilas e eficazes do que, obviamente, seria desejável mas não creio que seja um bom caminho. Algumas notas
Ao não aceitar a sugestão de adiamento do exame por parte do Colégio Arbitral com o argumento de de que não pode fazer o calendário a "reboque" dos professores, o MEC encetou uma fuga para a frente que pode acabar mal. Mandam os manuais que os processos de conflitualidade e negociação sejam orientados pela preocupação de que as partes envolvidas vejam, tanto quanto possível acauteladas as suas perspectivas e interesses com cedências e compromissos que levem a soluções que tenham algum equilíbrio, o que poderia ser o caso do adiamento deste exame. Os professores assumiam a sua forma de protesto e o MEC acautelava os tão propalados interesses com a estabilidade dos alunos e com as condições de realização do exame.
A opção escolhida é uma opção com um fortíssimo risco porque mantém e potencia justamente a instabilidade e a incerteza, pois não é garantido que os exames se realizem, ver-se-á no dia e em cada escola, além de que me parece gasolina na fogueira, pois trata-se de um recurso a um expediente que poderá ter um efeito contrário ao pretendido e despertar maior reactividade, ou seja, a prória medida pode ser um factor de radicalização da atitude de protesto.
O Ministro Crato com os discursos e as medidas que tem vindo a tomar neste processo parece seguir o trajecto de uma sua antecessora, Maria de Lourdes Rodrigues, que também num período de forte conflitualidade com os professores em 2006 afirmava, "perdi o apoio dos professores mas ganhei o da opinião pública".
A questão é que a educação, o sistema educativo, público e privado, não é o MEC, são as escolas com os professores, directores e funcionários no trabalho com alunos e famílias. Dito de outra maneira, todo o sistema funciona e continua apesar do MEC cuja tarefa deveria ser proporcionar as melhores condições de qualidade para esse funcionamento.
Seria bom que Nuno Crato tivesse isto em claro.
3 comentários:
E apesar dos sindicatos, não?
Sem dúvida, por vezes são parte do problema e não da solução. Creio, no entanto, que a greve em curso e as questões envolvidas estão para além da esfera dos sindicatos, tal como aconteceu no consulado de Mª Lourdes Rodrigues
ESPALHAR AVISO: TODOS OS PROFESSORES CONVOCADOS PARA VIGIAR EXAMES ESTÃO ABRANGIDOS PELO PRÉ-AVISO DE GREVE E NÃO SÃO OBRIGADOS A COMPARECER NA ESCOLA
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