É sabido que temos 17,8 % de desemprego, atingirá
em termos reais perto de milhão e meio de portugueses, com a expectativa de que
possa agravar-se. Sabe-se também que mais de metade dos desempregados não têm
subsídio de desemprego e que as alterações verificadas levarão a que os
montantes e os prazos de atribuição vão baixando como também tem vindo a baixar
o número de beneficiários do RSI.
Este cenário impressionante, que pode agravar-se
com a anunciada reforma do Estado, isto é, cortes nas suas funções sociais,
coloca Este quadro impressionante levanta uma terrível e angustiante questão.
Os milhares, muitos, de pessoas envolvidas vão (sobre)viver de quê?
Sendo de esperar a continuação de um período
recessivo e, portanto, sem crescimento, torna-se impossível criar a riqueza
necessária e redistribuí-la de forma socialmente mais justa para minimizar esta
tragédia.
É certo que em Portugal a chamada economia
paralela corresponde a cerca de 25% do PIB e muita gente e muitas actividades
estão envolvidas neste universo, de qualquer forma o potencial impacto social
destes números é, no mínimo, inquietante.
Afirmo com frequência que uma das consequências
menos quantificável das dificuldades económicas, sobretudo do desemprego, em
particular o de longa duração e de situações em que o tempo obriga a perder o
subsídio, é o roubo da dignidade às pessoas envolvidas. Sabemos que se verifica
oportunismo e fraude no acesso aos apoios sociais, mas a esmagadora maioria das
pessoas sentem a sua dignidade ameaçada quando está em causa a sobrevivência a
que só se acede pela “mão estendida” que envergonha, exactamente por uma
questão de dignidade roubada.
A questão da pobreza é um terreno que se presta a
discursos fáceis de natureza populista e ou demagógica, sem dúvida. Mas também
não tenho dúvidas de que os problemas gravíssimos de pobreza que perto de três
milhões de portugueses conhecem como ontem referia a Cáritas, exigem uma recentração de prioridades e
políticas que não se vislumbra. Na verdade, apesar da retórica oficial de que
existe justiça social nas medidas de austeridade, o que é verdadeiramente
insustentável é que as políticas assumidas, por escolha de quem decide, estão a
aumentar as assimetrias sociais, a produzir mais exclusão e pobreza. Mais
preocupante a insensibilidade da persistência neste caminho.
Quando nos dizem que não há alternativa, é
interessante registar que alguns analistas, incluindo ironicamente o próprio
FMI, atribuem a rápida recuperação da Islândia à manutenção do estado social e
dos apoios sociais, ou seja, privilegiou-se as pessoas e não os mercados, a
banca, o contrário do diktat que nos é imposto.
A pobreza e a exclusão deveriam envergonhar-nos a
todos, a começar por quem lidera, representam o maior falhanço das sociedades
actuais.
3 comentários:
A justiça social nas medidas de austeridade a que eles se referem é taxar com 500 € quem aufere 5.000 € mensais e 100 € quem tem de vencimento de 600 €. A senhora Presidente da Assembleia da República, por exemplo, reformou-se aos 42 anos com dois mil e muitos € e aufere no seu cargo actual 4.200 € com viatura topo de gama com motorista 24 horas por dia.
Isto é apenas um exemplo num universo muito grande de como os governantes entendem a justiça social.
Sempre ouvi dizer que um político para ser um bom político tem que ter as seguintes qualidades ? : MENTIROSO, DISSIMULADO, INSENSÍVEL, NENHUMA DIGNIDADE MORAL QUE IMPONHA RESPEITO (embora a queiram ter) e desprovido de vergonha.
Neste último item estamos muito bem servidos...
VIVA!
Boa tarde, para o autor deste blog e os meus cumprimentos.
Gostaria somente de tecer alguns comentários acerca desta notícia.
Neste momento a escolaridade obrigatória é de 12 anos, então porque que as ofertas de emprego do IEFP colocadas pedem pessoas com 4ªClasse ou mesmo 5ª ano? (basta fazer uma pesquisa por habilitações literarias).
Andamos a formar pessoas (ensino profissional e ensino superior) para que ?
Quem tem mais habilitações vai fazer o que ? concorrer aos anuncios a pedir a 4ª Classe ?
em conclusão,os governantes ficam admirados de as pessoas emigrarem.
Cumprimentos.
Caro Ramsés, a escolaridade obrigatória de 12 anos apenas envolve os alunos que estão agora no secundário pelo que os anúncios de emprego ainda pedirão habilitações anteriores mais alguns anos.
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