quarta-feira, 19 de junho de 2013

ESTA GENTE VAI (SOBRE)VIVER DE QUÊ?

O Instituto de Emprego e Formação Profissional definiu que os desempregados de longa duração sem subsídio de desemprego apenas devem preencher 20% das vagas dos cursos de formação dos Centros de Emprego. A maioria das vagas deve ser destinada a desempregados com subsídio ou a pessoas beneficiárias do Rendimento Social de Inserção.
É sabido que temos 17,8 % de desemprego, atingirá em termos reais perto de milhão e meio de portugueses, com a expectativa de que possa agravar-se. Sabe-se também que mais de metade dos desempregados não têm subsídio de desemprego e que as alterações verificadas levarão a que os montantes e os prazos de atribuição vão baixando como também tem vindo a baixar o número de beneficiários do RSI.
Este cenário impressionante, que pode agravar-se com a anunciada reforma do Estado, isto é, cortes nas suas funções sociais, coloca Este quadro impressionante levanta uma terrível e angustiante questão. Os milhares, muitos, de pessoas envolvidas vão (sobre)viver de quê?
Sendo de esperar a continuação de um período recessivo e, portanto, sem crescimento, torna-se impossível criar a riqueza necessária e redistribuí-la de forma socialmente mais justa para minimizar esta tragédia.
É certo que em Portugal a chamada economia paralela corresponde a cerca de 25% do PIB e muita gente e muitas actividades estão envolvidas neste universo, de qualquer forma o potencial impacto social destes números é, no mínimo, inquietante.
Afirmo com frequência que uma das consequências menos quantificável das dificuldades económicas, sobretudo do desemprego, em particular o de longa duração e de situações em que o tempo obriga a perder o subsídio, é o roubo da dignidade às pessoas envolvidas. Sabemos que se verifica oportunismo e fraude no acesso aos apoios sociais, mas a esmagadora maioria das pessoas sentem a sua dignidade ameaçada quando está em causa a sobrevivência a que só se acede pela “mão estendida” que envergonha, exactamente por uma questão de dignidade roubada.
A questão da pobreza é um terreno que se presta a discursos fáceis de natureza populista e ou demagógica, sem dúvida. Mas também não tenho dúvidas de que os problemas gravíssimos de pobreza que perto de três milhões de portugueses conhecem como ontem referia a Cáritas, exigem uma recentração de prioridades e políticas que não se vislumbra. Na verdade, apesar da retórica oficial de que existe justiça social nas medidas de austeridade, o que é verdadeiramente insustentável é que as políticas assumidas, por escolha de quem decide, estão a aumentar as assimetrias sociais, a produzir mais exclusão e pobreza. Mais preocupante a insensibilidade da persistência neste caminho.
Quando nos dizem que não há alternativa, é interessante registar que alguns analistas, incluindo ironicamente o próprio FMI, atribuem a rápida recuperação da Islândia à manutenção do estado social e dos apoios sociais, ou seja, privilegiou-se as pessoas e não os mercados, a banca, o contrário do diktat que nos é imposto.
A pobreza e a exclusão deveriam envergonhar-nos a todos, a começar por quem lidera, representam o maior falhanço das sociedades actuais.

3 comentários:

não sei quem sou... disse...

A justiça social nas medidas de austeridade a que eles se referem é taxar com 500 € quem aufere 5.000 € mensais e 100 € quem tem de vencimento de 600 €. A senhora Presidente da Assembleia da República, por exemplo, reformou-se aos 42 anos com dois mil e muitos € e aufere no seu cargo actual 4.200 € com viatura topo de gama com motorista 24 horas por dia.

Isto é apenas um exemplo num universo muito grande de como os governantes entendem a justiça social.

Sempre ouvi dizer que um político para ser um bom político tem que ter as seguintes qualidades ? : MENTIROSO, DISSIMULADO, INSENSÍVEL, NENHUMA DIGNIDADE MORAL QUE IMPONHA RESPEITO (embora a queiram ter) e desprovido de vergonha.

Neste último item estamos muito bem servidos...


VIVA!

Ramses II disse...

Boa tarde, para o autor deste blog e os meus cumprimentos.
Gostaria somente de tecer alguns comentários acerca desta notícia.
Neste momento a escolaridade obrigatória é de 12 anos, então porque que as ofertas de emprego do IEFP colocadas pedem pessoas com 4ªClasse ou mesmo 5ª ano? (basta fazer uma pesquisa por habilitações literarias).
Andamos a formar pessoas (ensino profissional e ensino superior) para que ?
Quem tem mais habilitações vai fazer o que ? concorrer aos anuncios a pedir a 4ª Classe ?
em conclusão,os governantes ficam admirados de as pessoas emigrarem.
Cumprimentos.

Zé Morgado disse...

Caro Ramsés, a escolaridade obrigatória de 12 anos apenas envolve os alunos que estão agora no secundário pelo que os anúncios de emprego ainda pedirão habilitações anteriores mais alguns anos.