quarta-feira, 12 de junho de 2013

AS PALAVRAS QUE OFENDEM

Depois do episódio que envolveu Miguel Sousa Tavares que baptizou o Presidente da República de "palhaço" o que motivou um pedido de inquérito à PGR que se supõe em curso e de que se não conhecem desenvolvimentos pois o segredo de justiça em Portugal é assunto sério, temos um novo episódio de palavras ofensivas dirigidas a Cavaco Silva.
Em Elvas, um cidadão terá mandado um recado a Cavaco Silva no sentido de o mandar "trabalhar e ainda, de acordo com os seguranças mas negado pelo cidadão ter-lhe-á chamado "chulo" e "malandro". Claro que o cidadão foi detido e já está condenado, como se sabe em Portugal a justiça é célere, a uma multa de 1300€ de que o cidadão vai recorrer pois, como também se sabe, às decisões dos tribunais segue-se sempre um rol de recursos que varia com a habilidade e peso, por assim dizer, do cidadão envolvido.
Como é evidente, o respeito e a dignidade das funções das pessoas não podem ser atropelados por um entendimento excessivamente elástico da liberdade de expressão. Na verdade e como todos reconhecemos, chamar chulo e malandro é em Portugal uma rara e particularmente grave forma de insulto, tanto que a maioria de nós nunca a usa por pudor e vergonha de proferir tal enormidade. Por outro lado, também me parece absolutamente inaceitável e de uma delinquência que não pode ficar impune, mandar o Presidente da República trabalhar, pois sendo Cavaco Silva um respeitável reformado que vive, mal é certo, das suas pensões e reformas, mandá-lo trabalhar é indesculpável.
Agora mais a sério e como disse na altura do episódio com Miguel Sousa Tavares, acho muito curioso este alarido pois apesar de nada querer branquear, as "ofensas" desta natureza são extraordinariamente frequentes na nossa vida política e não só.
Com demasiada regularidade são usados termos no âmbito da saúde mental, esquizofrenia ou autismo, por exemplo, para adjectivar comportamentos e discursos na vida política quando tal uso é uma enorme ofensa ao sofrimento das pessoas e das famílias que lidam com quadros clínicos desta natureza.
Parece-me uma enorme ofensa à honra e dignidade afirmar que temos de empobrecer quando um terço dos portugueses vive no limiar de pobreza.
Parece-me uma enorme ofensa as despudoradas mordomias e salários que alguns arautos dos sacrifícios e da austeridade usufruem.
Parece-me uma enorme ofensa, afirmar que o desemprego é uma janela de oportunidade num país com um milhão de desempregados, mais de metade sem subsídio e com 42.5% dos jovens sem trabalho.
Muitos velhos que conheço e que têm pensões e reformas miseráveis sentiram-se ofendidos quando o Presidente da Republica afirmou que os milhares de euros de reforma de que disporá não lhe chegarão para as despesas pessoais.
Enfim, o que mais existem são exemplos de como as palavras que por aí se soltam podem ofender.
Do meu ponto de vista, este tipo de situações e tratamento que lhes é dado, a referência ao "palhaço" produzida por MST e agora o "malandro" e o "chulo" e o "vai trabalhar" do cidadão de Elvas mais não fazem do que justificar a mais comum das referências da linguagem corrente, a "palhaçada" que tudo isto representa e que, como sempre, tem palhaços ricos e palhaços pobres.
Siga, pois, o circo. Na falta do pão.

1 comentário:

Manuela Matos disse...

Não podia estar mais de acordo!
Abraço Morgado, continua assim, direto e atento.

Manela