Mais de 40% dos alunos do secundário que vão
iniciar a próxima época de exames não tencionam prosseguir estudos no ensino
superior, uma taxa surpreendentemente elevada.
Alguns especialistas identificam a situação
económicas das famílias como explicação para tal situação. Do meu ponto de vista,
há ainda que considerar os eventuais efeitos de um discurso recorrentemente
difundido de que, dada a enorme taxa de desemprego de jovens com qualificação
superior, o investimento numa qualificação superior não compensa pois não existe
mercado de trabalho e alguns empregos que surgem são precários e mal pagos.
Por partes. Na verdade, Portugal, conforme alguns
estudos demonstram, tem comparativamente a muitos outros países da Europa, um
dos mais altos custos para as famílias a situação de um filho a estudar no
ensino superior, ou seja, as famílias portuguesas fazem um esforço bem maior,
em termos de orçamento familiar, para que os seus filhos acedam a formação
superior. Se considerarmos a frequência de ensino superior privado o esforço é
ainda maior. Tem vindo a ser regularmente noticiada a desistência da frequência
dos cursos por muitos alunos que, por si, ou os respectivos agregados
familiares não suportam os encargos com o estudo.
Estas dificuldades são, do meu ponto de vista,
considerados frequentemente de forma ligeira ou mesmo desvalorizadas. Tal
entendimento parece assentar na ideia de que a formação de nível superior é um
luxo, um bem supérfluo pelo que ... quem não tem dinheiro não tem vícios.
Neste contexto, o abaixamento na intenção de
prosseguir estudos superiores pode estar associado às dificuldades enormes que
muitas famílias atravessam e o desemprego mais elevado entre os jovens, que
poderia constituir uma pressão para continuar os estudos a que acresce a
redução significativa das bolsas e apoios, tornam ainda mais difícil a
realização de percursos escolares que promovam mobilidade social e que se
traduz, por exemplo, no aumento das desistências ou mesmo na intenção e
disponibilidade para estudar.
Relativamente aos discursos sobre “estudar não
compensa”, o futuro é o desemprego.
Como muitas vezes aqui tenho afirmado Portugal é
o país da OCDE em que estudar mais compensa ao nível do estatuto salarial,
segundo o Relatório da OCDE, "Education at a Glance 2012", a
diferença salarial de jovens com licenciatura para jovens com formação a nível
do secundário é de 69 %.
Não esqueço o altíssimo e inaceitável nível de
desemprego entre os jovens, em particular entre os jovens com qualificação
superior, mas esta questão decorre do baixo nível de desenvolvimento do nosso
mercado de trabalho, de circunstâncias conjunturais e de erradas políticas de
emprego e não da sua qualificação.
Neste cenário e como sempre afirmo, o discurso
muitas vezes produzido no sentido de que "não adianta estudar" não
colhe e não tem sustentação sendo, um autêntico tiro no pé de uma sociedade
pouco qualificada como a nossa que, efectivamente e contrariamente à tão
afirmada quanto errada ideia de que somos um país de doutores, continua, em
termos europeus, com uma das mais baixas taxas de qualificação superior em
todas as faixas etárias incluindo as mais jovens.
Conseguir níveis de qualificação compensa sempre
e é imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível superior compensa
ainda mais.
O que acontece verdadeiramente é termos
desenvolvimento a menos, não é qualificação a mais, temos um mercado de
trabalho que a cegueira da austeridade e do empobrecimento tem vindo a proletarizar
e que não absorve a mão-de-obra qualificada. Não podemos passar a mensagem de
que a qualificação não é uma mais-valia.
Sem comentários:
Enviar um comentário