Nos últimos tempos são recorrentes as notícias
relativas a problemas sérios no âmbito das relações interpessoais entre adolescentes
e jovens. Relembro casos como o da alegada violação de uma rapariga por colegas
da escola, a tragédia de hoje da morte de um jovem, junto a uma escola, ao que
parece em consequência de confrontos decorrentes de problemas anteriores entre
grupos e agora, junto da mesma escola, novo episódio de extrema violência.
Começam a ser mais evidentes e frequentes estes
casos de violência e abusos entre gente nova o que nos leva a questionar os
nossos valores, códigos e leis pela perplexidade que nos causam.
A questão que me leva de novo a estas notas é
mais no sentido de tentarmos perceber um processo que designo como
"incubação do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na
adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente
despercebidas mas que, devagarinho, insidiosamente, começam interiormente a
ganhar um peso insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma
oportunidade.
A fase seguinte pode passar por duas vias, uma
mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva, possa drenar
esse mal-estar, nessa altura já ódio e agressividade, ou, a outra via, aumenta
exponencialmente o risco de um pico que pode ser um tiroteio numa escola, a
bomba meticulosamente e obsessivamente preparada ou uma investida contra alguém
arriscando a entrada numa espiral de violência cheia de "adrenalina",
em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói
valores e gente.
É evidente que a punição e a detenção
constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade
perigosamente presente na nossa comunidade mas é minha forte convicção de que
só punir e prender não basta.
Assim, sabendo que prevenção e programas
comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que custa
prevenir e os custos posteriores da violência, da delinquência continuada e da
insegurança.
Finalmente, a importância de uma permanente
atenção às pessoas, desde pequenas, ao seu bem-estar, tentando detectar,
tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho
que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
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