Na semana que corre temos tido referências a
problemas sérios no âmbito das relações interpessoais entre adolescentes e
jovens. Relembro o caso da alegada violação de uma rapariga por colegas da
escola e a tragédia de hoje da morte de um jovem, junto a uma escola, ao que parece
em consequência de confrontos decorrentes de problemas anteriores entre grupos.
Começam a ser mais evidentes e frequentes estes
casos de violência e abusos entre gente nova o que nos leva a questionar os
nossos valores, códigos e leis pela perplexidade que nos causam.
A questão que me leva a estas notas é mais no
sentido de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação do
mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na adolescência, a
partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas
mas que, devagarinho, insidiosamente, começam interiormente a ganhar um peso
insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por duas vias, uma
mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva, possa drenar
esse mal-estar, nessa altura já ódio e agressividade, ou, a outra via, aumenta
exponencialmente o risco de um pico que pode ser um tiroteio numa escola, a
bomba meticulosamente e obsessivamente preparada ou uma investida contra alguém
arriscando a entrada numa espiral de violência cheia de "adrenalina",
em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói
valores e gente.
É evidente que a punição e a detenção constituírem
um importante sinal de combate à sensação de impunidade perigosamente presente
na nossa comunidade mas é minha forte convicção de que só punir e prender não
basta.
Assim, sabendo que prevenção e programas
comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que custa
prevenir e os custos posteriores da violência, da delinquência continuada e da
insegurança.
Finalmente, a importância de uma permanente
atenção às pessoas, desde pequenas, ao
seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o
risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe
como acaba.
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