Uma das mais recorrentes apreciações sobre o Governo de Passos Coelho é a existência de um problema de comunicação. Na verdade, a questão central é o conjunto das políticas seguidas e os seus efeitos e não a forma como se fala sobre elas.
No entanto e apesar disto, é verdade que nas sociedades contemporâneas a comunicação e a sua gestão têm um papel fundamental e nesta matéria muitos membros do Governo têm tido intervenções públicas que constituem verdadeiros insultos a milhares de portugueses para além de revelarem incompetência em estratégia de comunicação.
Passos Coelho em discurso ontem produzido deixou mais alguns exemplos do que não pode ser dito sem que muitos de nós nos sintamos ofendidos. Vejamos dois exemplos.
"Hoje, os portugueses são vistos como gente trabalhadora, cumpridora e honrada" é o primeiro exemplo. Como disse? Acha o Primeiro-ministro que o seu Governo recuperou então a imagem dos portugueses que no seu entendimento eram preguiçosos, não trabalhavam, não cumpriam os seus compromissos e eram desonestos? O currículo de Passos Coelho talvez não lhe permita perceber isso, mas deveria saber que a esmagadora maioria de nós trabalha, cumpre as responsabilidades que assume, contrariamente a ele próprio, e é honesta. A esmagadora maioria de nós não praticou o alpinismo social em cima, por exempo, das jotas partidárias e não lhe caiem no colo os empregos que o amiguismo e o tráfico de influências proporcionam. Tenha tento na língua.
Um segundo exemplo, "Eu sei o que é ficar desempregado, não ter uma perspectiva no imediato, no médio prazo". Lamento mas não acredito que saiba o que é estar desempregado embora acredite que possa ter estado algum tempo, pouco, sem emprego, enquanto o mundo se organizava paa o receber e empregar porque os amigos são para as ocasiões e nem todos temos, por exemplo, um Ângelo Correia a zelar por nós. Certamente não terá passado dias sem fim na fila do Centro de Emprego na miragem de "qualqer coisa" que apareça, "estou por tudo".
Não, Passos Coelho não pode dizer "que sabe o que é estar desempregado", não sabe e não vai saber nunca, felizmente para ele, o que é estar desempregado há muitos meses, anos, olhar para o futuro e ver, sentir, uma parede, não ter subsídio porque acabou ou não tem direito, sentir o desespero da sobrevivência pessoal e familiar e ouvir dizer que ainda temos de empobrecer.
Passos Coelho pode ter uma fé inabalável nos modelos económicos e políticos que lhe impõem e que ele assume, mesmo que esses modelos produzam o desemprego e a pobreza que conhecemos e parece não ter fim e que, despudoradamente, venham posteriormente a ser reconhecidos como errados, como está a agora a acontecer face ao que se fez na Grécia. Não pode, não deve, produzir afirmações que indignam e ofendem muitas pessoas, em particular, as que são atropeladas pelas políticas que subscreve e impõe.
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