O Público de hoje dedica alguma atenção ao
processo de "ajustamento" que os CTT estão a proceder levando ao
fecho de muitas dezenas de estações que em muitas terras são um serviço
insubstituível para populações envelhecidas e com graves problemas económicos e
de mobilidade. Considerando a anunciada privatização, trata-se de baixar os custos da estrutura para que os eventuais compradores possam realizar um bom negócio e prestar posteriormente um pior serviço. Nada de novo, portanto.
A este propósito não pude deixar de recordar umas notas que já por aqui tinha colocado.
A este propósito não pude deixar de recordar umas notas que já por aqui tinha colocado.
Em primeiro lugar recordei que há algum tempo um
estudo realizado em Portugal sobre os níveis de confiança dos portugueses em
diferentes classes profissionais, mostrava que bombeiros, professores e
carteiros são os profissionais em quem os portugueses mais parecem confiar. Na
altura da divulgação achei interessante a confiança expressa por nós em quem
cuida do nosso bem-estar e ajuda em caso de necessidade, os bombeiros, em quem
nos constrói o futuro, os professores, cuidando do nosso mais precioso bem, os
filhos, e em quem nos traz as notícias do mundo, os carteiros, provavelmente,
com a secreta esperança de que sejam sempre boas notícias. Mas mesmo quando
portadores de más notícias, o mensageiro merece confiança.
As cartas e postais de natureza pessoal,
lamentavelmente em vias de extinção, são bastante mais inteligentes que os
e-mails, não estão sujeitas a infecções virais, a "forwards" tontos e
impessoais e à complementar praga de "junke" e-mail. São os carteiros
que as trazem e que, em muitos locais, mais do que imaginamos quando vivemos em
zonas urbanas, conhecem os destinatários e prestam um serviço que significa bem
mais do que a entrega de correspondência.
Ainda me lembrei com alguma saudade do Sr.
Gonçalves, o carteiro da minha zona quando eu era adolescente. O Sr. Gonçalves
que já partiu há alguns anos, era um homem de grandes bigodes, forte, tinha que
o ser para transportar aquele enorme saco de cabedal castanho, e amigo da gente
nova. Era uma figura.
Vou partilhar um segredo convosco, mas peço que mantenham
a devida reserva. Durante algum tempo, o Sr. Gonçalves e eu tivemos um acordo.
Ele mostrava-me os postais que vinham do liceu dirigidos ao meu pai com as
notas e as faltas e eu, quando o encontrava à tarde de vez em quando,
pagava-lhe uma cerveja na tasca do meu tio. Já vos tenho dito que não fui um
aluno brilhante, longe disso, no que respeita ao comportamento, é melhor nem
falar. A cumplicidade com o Sr. Gonçalves no sentido de, por amor filial que
compreenderão, proteger o meu pai de notícias menos agradáveis, era conseguida,
eu acho, porque ele, no fundo, acreditaria que talvez eu não fosse um caso
perdido. E não era, ele entendia de miúdos.
E eu gostava do carteiro, do Sr. Gonçalves.
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