sábado, 29 de junho de 2013

A INCUBAÇÃO DO MAL

Nas últimas semanas têm-se registado múltiplos episódios de extrema violência envolvendo jovens e o uso de armas, designadamente, armas brancas. Esta noite ocorreu um novo e trágico incidente do qual resultou mais uma morte.
Apesar de há poucos dias aqui ter deixado algumas notas a frequência e gravidade das situações obrigam a uma enorme atenção e a exigir reflexão.
Na verdade, esta sucessão de incidentes graves leva-nos a questionar os nossos valores, códigos e leis pela perplexidade que nos causam.
A questão que me leva de novo a estas notas é mais no sentido de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas mas que, devagarinho, insidiosamente, começam interiormente a ganhar um peso insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva, possa drenar esse mal-estar, nessa altura já ódio e agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que pode ser um tiroteio numa escola, a bomba meticulosamente e obsessivamente preparada ou a entrada numa espiral de violência cheia de "adrenalina" que é banalizada e "normalizada", em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói valores e gente.
É evidente que a punição e a detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade perigosamente presente na nossa comunidade, mas é minha forte convicção de que só punir e prender não basta.
Assim, sabendo que prevenção e programas comunitários e de integração têm custos, importa reflectir sobre o clima social das nossas comunidades e ponderar entre o que custa prevenir e os custos posteriores da violência, da delinquência continuada e da insegurança.
Finalmente, a importância de uma permanente atenção às pessoas, desde pequenas, ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
E, como se tem visto, às vezes acaba mal.

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