No Público de hoje é apresentado um trabalho sobre
um rentável nicho de mercado da economia paralela, os lares ilegais para
idosos.
A Associação de Apoio Domiciliário de Lares e
Casas de Repouso de Idosos aponta para a existência de 24 mil idosos "a
viver mal", em lares ilegais e casas de acolhimento clandestinas
acentuando que a tendência é de aumento.
Em 2012 foram notificadas para encerramento 80
instituições. Destas, 10 foram encerradas compulsivamente e a Associação refere
como problemas a fiscalização insuficiente e a impunidade dos responsáveis levando que alguns,
depois de verem encerradas algumas instalações, "deslocalizam-nas" e abram
outros espaços por vezes bem próximos ou até nas antigas instalações. Entre
Janeiro e Abril de 2013 foram já encerrados já 15 lares.
Ainda segundo dados da Associação de Apoio
Domiciliário de Lares e Casas de Repouso de Idosos, em final de 2011 existiriam
1972 lares licenciados, cerca de 1000 em situação ilegal alimentando um mercado
que valerá perto dos 40 milhões de euros. É ainda de considerar que teremos
perto de um milhão de portugueses acima dos 75 anos e dado o envelhecimento
progressivo, o futuro do negócio parece assegurado. Aliás, sabe-se que muitas
das instituições para idosos têm longas lista de espera.
Este universo, o acolhimento, institucional ou
familiar dos velhos é uma questão complexa, como complexa e muitas vezes
difícil é viver com a condição de velho.
Um relatório de há um ano, creio, da OMS
identificava Portugal como um dos cinco países europeus em que os velhos sofrem
mais maus-tratos. Cerca de 39,4% dos velhos sofrem alguma forma de maus-tratos,
que envolvem, por exemplo extorsão, abuso psicológico, físico ou negligência.
De facto, nos últimos tempos têm sido recorrentes as notícias sobre os
maus-tratos aos velhos, aos seniores, como agora se diz. Quer no seio das
famílias, quer em instituições, multiplicam-se as referências à forma
inaceitável como os velhos estão a ser tratados. Não é fácil ser velho.
Começam por ser desconsiderados pelo sistema de
segurança social que com pensões miseráveis, transforma os velhos em pobres,
dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência. Continua com um
sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e
apoio, sem médico de família.
Em muitas circunstâncias, as famílias, seja pelos
valores, seja pelas suas próprias dificuldades e estilos de vida, não se
constituem como um porto de abrigo, sendo parte significativa do problema e não
da solução produzindo cada vez mais situações de solidão e isolamento entre os
velhos, com consequências que têm feito manchetes, muitos velhos morrem de
sozinhismo, de solidão. Estão em extinção as relações de vizinhança e a
vivência comunitária, fontes privilegiadas de protecção dos mais velhos.
É certo que existe, felizmente, um pequeno número
de idosos que além do apoio familiar, ainda possuem meios que lhes permitem
aceder a bens e equipamentos que contribuem para uma desejável e merecida
qualidade de vida no fim da sua estrada.
Finalmente, as instituições, muitas delas, como o
trabalho de hoje do Público ilustra, subordinam-se ao lucro e escudam-se numa
insuficiente fiscalização não oferecendo a qualidade exigida. Por outro lado,
os equipamentos de qualidade são inacessíveis aos rendimentos de muitos dos
nossos velhos.
Lamentavelmente, boa parte dos velhos, sofreu
para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma narrativa.
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