O Presidente da República, desta vez sem ser
através do Facebook, voltou a afirmar que “a precariedade e, por esta via, a
manutenção de salários baixos não é a solução para os problemas da economia
portuguesa, sobretudo quando serve para colmatar insuficiências de liderança,
lacunas organizativas ou falta de inovação”. Aliás, há poucas semanas Cavaco
Silva também tinha afirmado, “Não pensem que é pelos baixos salários que se
garante a competitividade da economia”.
Vale pena registar este entendimento apesar do
pouco impacto que a "magistratura de influência" do Presidente parece
ter na acção dos feitores que nos administram em nome dos mercados.
Estas declarações contrapõem-se a discursos
inaceitável e insultuosos como o mais recente de Belmiro, “se não for a
mão-de-obra barata, não há emprego para ninguém", ou o produzido há
semanas pelo abutre António Borges, companheiro de estrada e de filiação
partidária de Cavaco Silva, "o ideal era que os salários descessem".
Este é também, como é sabido o ideário de Passos
Coelho e que se torna difícil de entender quando se destina a um país com perto
de três milhões de pessoas em risco de pobreza e em 7 em cada dez famílias se
sentem financeiramente vulneráveis e apenas 4 % das famílias sente
"segurança financeira" conforme estudo hoje divulgado pelo Jornal de
Negócios.
Parece razoavelmente claro que a proletarização
da economia como defendem o abutre Borges ou o "patrão" Belmiro não
poderá ser a base para o desenvolvimento económico, mas sim o investimento e a
disponibilização de crédito a custos razoáveis, sobretudo para as pequenas e
médias empresas que de forma mais ágil criam emprego e emprego qualificado que
não pode ter a indignidade dos salários que conhecemos.
De facto, basta atentar na situação de outros
países, o nosso desenvolvimento e crescimento não irá nunca assentar no
empobrecimento de quem trabalha, pagando menos por mais tempo de trabalho e,
muito menos, na tolerância a situações de chantagem em que as pessoas, para
manter o emprego e assegurar um mínimo para a sobrevivência, se sentem
obrigadas a aceitar situações degradantes e humilhantes que configuram uma nova
escravatura. Esta situação afecta tanto a mão de obra menos diferenciada, o
trabalho em limpeza por exemplo em que se "oferecem" 2 € por hora, como
a mão de obra mais especializada com a "oferta" do salário mínimo ou
nem isso a gente com formação superior como é recorrentemente noticiado.
Eu sei que os tempos vão de maneira a que muitas
pessoas preferem umas migalhas, custe o que custar, ao desemprego, mas não
podemos aceitar que vale tudo na forma mais selvagem de funcionamento dos
mercados.
Apesar da afirmação do Presidente da República,
há mesmo quem pense que os baixos salários, que não o seu evidentemente, são
algo de positivo e promotor de desenvolvimento. Desde que não seja os seus
porque esses são totalmente merecidos e como diz Eduardo Catroga, correspondem
a um valor de mercado.
Os outros, a maioria, obviamente, não têm valor
de mercado, nem chegam a ser pessoas, são activos descartáveis.
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