quarta-feira, 27 de março de 2013

AS LEGALIDADES INACEITÁVEIS

Sabemos que se vivem tempos de dificuldades  nunca conhecidas por boa parte da população, com um terço da população na pobreza ou em risco, com mais de um milhão de desempregados e com carências graves nos apoios sociais decorrentes de uma política de austeridade cega e insensível. Ainda hoje a imprensa refere um artigo da insuspeita Lancet em que se questiona a insensibilidade dos Governos e da Comissão Europeia que estas políticas de austeridade têm na saúde dos cidadãos de muitos países europeus
Seria de esperar que nestes tempos ainda mais exigente e criteriosa fosse a gestão dos dinheiros públicos. A retórica dos governantes, comum a todos, é de que assim se passa. No entanto, regularmente, são conhecidas situações que embraçam e insultam os cidadãos, sobretudo, os que na pele sofrem de forma mais significativa as dificuldades.
No I lê-se que num ano o estado pagou  a uma empresa de António Borges cerca de 300 000€, para além de despesas, no âmbito de um contrato de assessoria aos processos de privatização inscritos na agenda liberal do governo. Com uma máquina pesada e qualificada o estado entende ainda contratar os serviços do abutre António Borges para o ajudar a vender património. Será legal mas não é aceitável. Recordemos, sem demagogia, as sucessivas declarações do abutre António Borges sobre o empobrecimento e o corte nos salários quando assim ganha dinheiro. Aliás, no I refere-se ainda que auferiu também 50 000€ como administrador não executivo no Grupo Jerónimo Martins. Tudo isto é de uma promiscuidade e despudor que nos insultam. Gente com um mínimo de pudor estaria calada a beneficiar do seu valor de marcado como diz Eduardo Catroga.
Uma outra situação curiosa refere-se ao facto de vários cirurgiões receberem incentivos anuais no valor de centenas de milhar de euros por ... cumprirem o seu trabalho. É assim mesmo, os cirurgiões recebem os incentivos por realizar cirurgias destinadas a baixar as listas  de espera mas realizam-nas dentro do seu horário normal o que lhes permite receber o incentivo. E não acontece nada. Certamente será legal mas não é aceitável. (Foi anunciada pela tutela a instauração de processos a estas situações).
Uma última referência a legalidade inaceitável. De acordo com a lei, claro, Silva Carvalho arguido de nas suas funções nos serviços de informações ter cometido graves procedimentos, abuso de poder, violação de segredo de Estado e de acesso indevido a dados pessoais vai ser integrado com o mesmo estatuto e remuneração nos serviços da Presidência do Conselho de Ministros.
Certamente será legal, mas não é aceitável.
A questão mais grave é que tudo isto se passa sem um sobressalto, merecendo apenas umas inconsequentes linhas na imprensa e rapidamente desaparecem na espuma dos dias.

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