Sabemos que se vivem tempos de
dificuldades nunca conhecidas por boa
parte da população, com um terço da população na pobreza ou em risco, com mais
de um milhão de desempregados e com carências graves nos apoios sociais
decorrentes de uma política de austeridade cega e insensível. Ainda hoje a
imprensa refere um artigo da insuspeita Lancet em que se questiona a insensibilidade
dos Governos e da Comissão Europeia que estas políticas de austeridade têm na
saúde dos cidadãos de muitos países europeus
Seria de esperar que nestes
tempos ainda mais exigente e criteriosa fosse a gestão dos dinheiros públicos.
A retórica dos governantes, comum a todos, é de que assim se passa. No entanto,
regularmente, são conhecidas situações que embraçam e insultam os cidadãos,
sobretudo, os que na pele sofrem de forma mais significativa as dificuldades.
No I lê-se que num ano o estado
pagou a uma empresa de António Borges
cerca de 300 000€, para além de despesas, no âmbito de um contrato de assessoria
aos processos de privatização inscritos na agenda liberal do governo. Com uma
máquina pesada e qualificada o estado entende ainda contratar os serviços do
abutre António Borges para o ajudar a vender património. Será legal mas não é
aceitável. Recordemos, sem demagogia, as sucessivas declarações do abutre
António Borges sobre o empobrecimento e o corte nos salários quando assim ganha
dinheiro. Aliás, no I refere-se ainda que auferiu também 50 000€ como
administrador não executivo no Grupo Jerónimo Martins. Tudo isto é de uma
promiscuidade e despudor que nos insultam. Gente com um mínimo de pudor estaria
calada a beneficiar do seu valor de marcado como diz Eduardo Catroga.
Uma outra situação curiosa
refere-se ao facto de vários cirurgiões receberem incentivos anuais no valor de
centenas de milhar de euros por ... cumprirem o seu trabalho. É assim mesmo, os
cirurgiões recebem os incentivos por realizar cirurgias destinadas a baixar as
listas de espera mas realizam-nas dentro
do seu horário normal o que lhes permite receber o incentivo. E não acontece
nada. Certamente será legal mas não é aceitável. (Foi anunciada pela tutela a instauração de processos a estas situações).
Uma última referência a
legalidade inaceitável. De acordo com a lei, claro, Silva Carvalho arguido de
nas suas funções nos serviços de informações ter cometido graves procedimentos,
abuso de poder, violação de segredo de Estado e de acesso indevido a dados
pessoais vai ser integrado com o mesmo estatuto e remuneração nos serviços da
Presidência do Conselho de Ministros.
Certamente será legal, mas não é aceitável.
A questão mais grave é que tudo
isto se passa sem um sobressalto, merecendo apenas umas inconsequentes linhas
na imprensa e rapidamente desaparecem na espuma dos dias.
Sem comentários:
Enviar um comentário