No Público divulga-se um estudo da DECO sobre os
custos da estadia em lares para idosos segundo o qual dois terços dos
utilizadores não têm rendimentos que lhes permitam suportar os custos da estadia
nas instituições, dependendo assim das ajudas familiares. As graves
dificuldades que muitas famílias atravessam criam situações muito complicadas
para milhares de pessoas. Talvez este cenário contribua para entender os
resultados da Operação Censos Sénior realizada pela GNR que encontrou mais de
28 000 idosos a viver sós ou em situação de isolamento. Deve registar-se que
esta operação decorre fora das áreas urbanas e o número encontrado representa
um aumento de 22.6% relativamente a 2012. Nas áreas urbanas o número de idosos
a viver sós está também em crescimento. Acresce em todo este universo o movimento
de envelhecimento progressivo da população portuguesa levando a que para 2030
as projecções apontem para que metade da população portuguesa esteja acima dos
50 anos.
Numa altura em que continua na agenda a reforma
do estado que, parece, assenta nos cortes das suas funções sociais este cenário
exige uma profunda atenção. A discussão necessária sobre o chamado estado
social decorre num contexto particularmente adverso que pode, existe esse sério
risco, fazer emergir ameaças sobre a sua sustentabilidade e, naturalmente,
sobre a sua matriz conceptual.
Na verdade e pensando sobretudo no quadro actual
e futuro próximo, a nossa população mais velha vive de uma forma genérica em
condições muito precárias, como também sabemos que a população mais jovem é a
mais exposta ao risco de pobreza para além dos velhos. Aliás, como é conhecido
a tragédia do desemprego afecta sobretudo os mais novos e os mais velhos.
Os idosos começam por ser desconsiderados pelo
sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma os velhos em
pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência. Continua
com um sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos dependentes de
medicação e apoio sem médico de família. Em muitas circunstâncias, as famílias,
seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades, não se constituem
como um porto de abrigo, sendo parte significativa do problema e não da
solução. Por outro lado e para além dos custos das instituições, importa ainda considerar a acessibilidade da oferta e a respectiva qualidade.
Segundo o INE e reportando-se a 2009 a taxa de
risco de pobreza em Portugal continua alta, tendo subido na população idosa,
20.1 % deste grupo etário vive esta situação. Se considerarmos os efeitos
conjugados das dificuldades económicas e dos cortes em políticas sociais de
2010, 2011 e 2012, esta taxa tenderá seguramente a subir.
É também pertinente relembrar que dados do
Eurobarómetro sobre os impactos sociais da crise, mostravam em Junho de 2010
que os portugueses tinham como preocupação fundamental a pobreza, 91% dos
inquiridos, e a velhice, 69% dos inquiridos.
Se olharmos para conjunto de dados que vão sendo
disponibilizados, verifica-se que as condições estruturais se mantêm sem
alterações, estamos na mesma posição de pobreza há vários anos e, por outro
lado, as condições conjunturais, a crise, acentuam a preocupação com a pobreza
e com a velhice o que define um cenário altamente inquietante em termos de
confiança no futuro e na desejada e necessária qualidade de vida.
Temos vindo a assistir a um acréscimo de
dificuldades das organizações de solidariedade social no providenciar de apoios
às dificuldades crescentes da população, sobretudo à mais idosa, e retorna a
mendicidade ou o bater à porta das instituições, porventura de forma mais
envergonhada e a atingir camadas diferentes.
Neste cenário, todas as medidas que de alguma
forma atinjam os mais velhos devem ser objecto de uma extrema reflexão no
sentido de evitar que se acentuem as dificuldades no (sobre)viver de uma parte
significativa da população portuguesa.
Lamentavelmente, boa parte dos velhos, sofreu
para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma narrativa.
Se a este quadro já instalado acresce o
envelhecimento progressivo, o futuro exigirá mudanças substantivas e soluções
novas.
Este país não estando a ser para jovens vai ter
que ser para velhos.
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