quinta-feira, 7 de março de 2013

CRIANÇAS ABANDONADAS, REJEITADAS E ADOPTADAS

Segundo Relatório da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens, nos primeiros seis meses de 2012 registaram-se 232 casos de abandono de crianças por parte dos pais. Estes dados envolvem situações de abandono em hospital ou na rua, crianças deixadas sós quando os pais se ausentam, etc.
Este universo preocupante esconderá problemas de natureza variada que irão desde a gravidade da situação económica em algumas famílias, os custos dos serviços para a infância que nem sempre os tornam acessíveis, a desorganização, imaturidade e instabilidade de algumas dinâmica familiares até, naturalmente, à negligência pura e dura.
Como é evidente a comunidade tem a responsabilidade, embora nem sempre os meios e os procedimentos, para proteger as crianças deste tipo de situações.
No entanto para além destes dados, relativos a crianças abandonadas ou rejeitadas, existe uma outra realidade, menos perceptível em termos globais, mas conhecida por aqueles que lidam de mais perto com as crianças e que remete para a quantidade enorme de situações de crianças abandonadas e rejeitadas dentro das famílias, algumas destas famílias até com um funcionamento aparentemente normal.
Pode parecer estranha esta abordagem, mas muitas crianças vivem em famílias, vários tipos de família, que, por variadíssimas razões as não desejam, as não amam, apenas as toleram, cuidam, pior ou melhor, sobretudo nos aspectos "logísticos", quando o fazem, evidentemente. Em alguns casos, são mesmo crianças a que "não falta nada", dizem-nos. Na verdade falta-lhes o essencial, um colo de uma família.
Quando penso nestas situações lembro-me sempre de uma expressão que ouvi já há algum tempo a Laborinho Lúcio num dos encontros que tenho tido o privilégio de manter com ele.
Dizia Laborinho Lúcio que "só as crianças adoptadas são felizes, felizmente a maioria das crianças são adoptadas pelos seus pais”. Na verdade, algumas crianças não chegam a ser adoptadas pelos seus pais, crescem sós e abandonadas.
Existem mais crianças a viver narrativas desta natureza, abandonadas e ou rejeitadas dentro da família, do que se pode imaginar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia Professor,

Acho muito bonita a frase do Dr. Laborinho Lúcio por quem tenho enorme respeito e consideração e que até já foi falar num colóquio da Sociedade Portuguesa de Psicanálise.

No entanto quem trabalha com crianças adoptadas sabe que as problemáticas entre filhos biológicos e adoptados divergem em dúvidas básicas: quem são os meus pais biológicos? Onde estão? Já morreram? Porque estou numa situação de adopção?

Estas questões são muito difíceis de gerir para miúdos e graúdos. Se me é permitido aconselhar um livro de uma pessoa com muita experiência e bom senso deixo uma sugestão: "Este filho que não tive" do Dr. João Seabra Diniz.

Abraço
António Caroço

Zé Morgado disse...

Claro que entendo o que refere mas o sentido da frase de LL é de âmbito mais "genérico". Um abraço