quarta-feira, 13 de março de 2013

DROGA DE VIDA

O Governo aprovou recentemente legislação no sentido de proibir a venda de 160 novas “substâncias psicoactivas” nas chamadas smartshops. Parece-me um passo importante num universo com uma capacidade notável de inovação, recordo um relatório de Novembro de 2012, do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência que referia o aparecimento em 2011 de 49 novas drogas que são basicamente comercializadas através das smartshops, ao abrigo do modelo “alternativas lícitas às drogas ilícitas” assente em algumas ambiguidades legais. O mesmo relatório afirma que em 2012 já estavam identificadas 50 novas drogas.
Os casos sucessivos e graves de intoxicação com este tipo de produtos sustenta a proibição até porque, como já aqui escrevi, uma das razões que alguns estudos identificam para o consumo deste tipo de substâncias é justamente o facto de serem “legais”, ou seja, se são legais é porque “não fazem mal”, como alguns jovens consumidores afirmam.
No entanto, apesar de me parecer positiva a ilegalização deste tipo de substâncias creio que não pode nunca ser esquecida a prevenção e tratamento eficaz e, tanto quanto possível com os recursos adequados. Esta matéria parece tanto mais importante quanto para mais numa altura e que se noticia o aumento do consumo e das reincidências atribuíveis ao quadro de dificuldades que atravessamos e à fragilização pessoal e social que essas dificuldades possam induzir. Aliás, hoje é notícia o aumento do recurso à plantação e comércio "caseiro" de drogas por muitos jovens como forma de lidarem com as dificuldades decorrentes da crise. Por outro lado, os técnicos, a nível europeu, teme o risco do desinvestimento ou cortes nas políticas e actividades envolvidas no combate, prevenção e tratamento destas situações.
Como muitas vezes tenho afirmado, existem áreas de problemas que afectam as comunidades em que os custos da intervenção são claramente sustentados pelas consequências da não intervenção, ou seja, não intervir ou intervir mal é sempre bastante mais caro que a intervenção correcta em tempo oportuno. A toxicodependência e o consumo do álcool são exemplos dessas áreas. No entanto, como verificámos o Governo inexplicavelmente consegue admitir a existência de álcool “bom” que pode ser adquirido aos 16 anos e de um álcool “mau” que só pode ser adquirido aos 18 anos.
Quadros de dependência não tratados desenvolvem-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa espiral de consumo que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência. Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico, reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho profissional, promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez custos sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Os consumos, de diferentes substâncias, designadamente por parte dos adolescentes e jovens podem relacionar-se com alguma negligência paternal mas, na maioria dos casos, trata-se de pais, que sabem o que se passa, “apenas fingem” não perceber, desejando que o tempo“cure” se sentem tremendamente assustados, sem saber muito bem o que fazer e como lidar com a questão. De fora parece fácil produzir discursos sobre soluções, mas para os pais que estão “por dentro” a situação é muitas vezes sentida como maior que eles, justificando-se a criação de programas destinados a pais e aos adolescentes que minimizem o risco do consumo excessivo.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é caro, façam as contas aos resultados do descuidar.

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