O Governo aprovou legislação no sentido de proibir
a venda de 160 novas “substâncias psicoactivas” nas chamadas smartshops. Parece-me
um passo importante num universo com uma capacidade notável de inovação, recordo
um relatório de Novembro de 2012, do Observatório Europeu da Droga e da
Toxicodependência que referia o aparecimento em 2011 de 49 novas drogas que são
basicamente comercializadas através das smartshops, ao abrigo do modelo
“alternativas lícitas às drogas ilícitas” assente em algumas ambiguidades
legais. O mesmo relatório afirma que em 2012 já estavam identificadas 50 novas
drogas.
Os casos sucessivos e graves de intoxicação com
este tipo de produtos sustenta a proibição até porque, como já aqui escrevi, uma
das razões que alguns estudos identificam para o consumo deste tipo de
substâncias é justamente o facto de serem“legais”, ou seja, se são legais é
porque “não fazem mal”, como alguns jovens consumidores afirmam.
No entanto, apesar de me parecer positiva a
ilegalização deste tipo de substâncias creio que não pode nunca ser esquecida a
prevenção e tratamento eficaz e, tanto quanto possível com os recursos
adequados. Esta matéria parece tanto mais importante quanto para mais numa
altura e que se noticia o aumento do consumo e das reincidências atribuíveis ao
quadro de dificuldades que atravessamos e à fragilização pessoal e social que
essas dificuldades possam induzir.
Existem áreas de problemas que afectam as
comunidades em que os custos da intervenção são claramente sustentados pelas
consequências da não intervenção, ou seja, não intervir ou intervir mal é
sempre bastante mais caro que a intervenção correcta em tempo oportuno. A
toxicodependência e o consumo do álcool são exemplos dessas áreas. No entanto,
como verificámos o Governo inexplicavelmente consegue admitir a existência de
álcool “bom” que pode ser adquirido aos 16 anos e de um álcool “mau” que só
pode ser adquirido aos 18 anos.
Quadros de dependência não tratados
desenvolvem-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa
espiral de consumo que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência.
Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico,
reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho
profissional, promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez
custos sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Os consumos, de diferentes substâncias,
designadamente por parte dos adolescentes e jovens podem relacionar-se com
alguma negligência paternal mas, na maioria dos casos, trata-se de pais, que
sabem o que se passa, “apenas fingem” não perceber, desejando que o tempo
“cure” se sentem tremendamente assustados, sem saber muito bem o que fazer e
como lidar com a questão. De fora parece fácil produzir discursos sobre
soluções, mas para os pais que estão “por dentro” a situação é muitas vezes
sentida como maior que eles, justificando-se a criação de programas destinados
a pais e aos adolescentes que minimizem o risco do consumo excessivo.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é
caro, façam as contas aos resultados do descuidar.
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