Há poucas semanas o Presidente da República
afirmou, “Não pensem que é pelos baixos salários que se garante a
competitividade da economia”.
Hoje, o abutre António Borges, companheiro de
estrada e de filiação partidária de Cavaco Silva veio dizer, na linha, aliás,
do que tem afirmado, tal como Passos Coelho, que "o ideal era que os salários
descessem".
É difícil de entender, primeiro estas
discrepâncias entre dois génios da economia que até subscrevem um ideário
político semelhante e, segundo, a persistência numa estratégia de empobrecimento
como salvação para as dificuldades num país em que perto de três milhões de
pessoas, quase um terço da população está risco de pobreza.
Parece razoavelmente claro que a proletarização
da economia como defende o abutre Borges não poderá ser a base para o desenvolvimento
económico, mas sim o investimento e a disponibilização de crédito a custos
razoáveis, sobretudo para as pequenas e médias empresas que de forma mais ágil
criam emprego e emprego qualificado que não pode ter a indignidade dos salários
que conhecemos.
De facto, basta atentar na situação de outros
países, o nosso desenvolvimento e crescimento não irá nunca assentar no
empobrecimento de quem trabalha, pagando menos por mais tempo de trabalho e,
muito menos, na tolerância a situações de chantagem em que as pessoas, para
manter o emprego e assegurar um mínimo para a sobrevivência, se sentem
obrigadas a aceitar situações degradantes e humilhantes que configuram uma nova
escravatura. Esta situação afecta tanto a mão de obra menos diferenciada, o
trabalho em limpeza por exemplo em que se "oferecem" 2 € por hora,
como a mão de obra mais especializada com a "oferta" do salário
mínimo ou nem isso a gente com formação superior como é recorrentemente
noticiado.
Eu sei que os tempos vão de maneira a que muitas
pessoas preferem umas migalhas, custe o que custar, ao desemprego, mas não
podemos aceitar que vale tudo na forma mais selvagem de funcionamento dos mercados.
Apesar da afirmação do Presidente da República,
há mesmo quem pense que os baixos salários, que não o seu evidentemente, são
algo de positivo e promotor de desenvolvimento. Desde que não seja os seus porque esses são totalmente merecidos e como diz Eduardo Catroga, correspondem a um valor de mercado. Os outros, a maioria, obviamente, não têm valor de mercado, nem chegam a ser pessoas, são activos descartáveis.
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