sexta-feira, 8 de março de 2013

A PROLETARIZAÇÃO DA ECONOMIA NÃO PODE SER O CAMINHO

Há poucas semanas o Presidente da República afirmou, “Não pensem que é pelos baixos salários que se garante a competitividade da economia”.
Hoje, o abutre António Borges, companheiro de estrada e de filiação partidária de Cavaco Silva veio dizer, na linha, aliás, do que tem afirmado, tal como Passos Coelho, que "o ideal era que os salários descessem".
É difícil de entender, primeiro estas discrepâncias entre dois génios da economia que até subscrevem um ideário político semelhante e, segundo, a persistência numa estratégia de empobrecimento como salvação para as dificuldades num país em que perto de três milhões de pessoas, quase um terço da população está risco de pobreza.
Parece razoavelmente claro que a proletarização da economia como defende o abutre Borges  não poderá ser a base para o desenvolvimento económico, mas sim o investimento e a disponibilização de crédito a custos razoáveis, sobretudo para as pequenas e médias empresas que de forma mais ágil criam emprego e emprego qualificado que não pode ter a indignidade dos salários que conhecemos.
De facto, basta atentar na situação de outros países, o nosso desenvolvimento e crescimento não irá nunca assentar no empobrecimento de quem trabalha, pagando menos por mais tempo de trabalho e, muito menos, na tolerância a situações de chantagem em que as pessoas, para manter o emprego e assegurar um mínimo para a sobrevivência, se sentem obrigadas a aceitar situações degradantes e humilhantes que configuram uma nova escravatura. Esta situação afecta tanto a mão de obra menos diferenciada, o trabalho em limpeza por exemplo em que se "oferecem" 2 € por hora, como a mão de obra mais especializada com a "oferta" do salário mínimo ou nem isso a gente com formação superior como é recorrentemente noticiado.
Eu sei que os tempos vão de maneira a que muitas pessoas preferem umas migalhas, custe o que custar, ao desemprego, mas não podemos aceitar que vale tudo na forma mais selvagem de funcionamento dos mercados.
Apesar da afirmação do Presidente da República, há mesmo quem pense que os baixos salários, que não o seu evidentemente, são algo de positivo e promotor de desenvolvimento. Desde que não seja os seus porque esses são totalmente merecidos e como diz Eduardo Catroga, correspondem a um valor de mercado. Os outros, a maioria, obviamente, não têm valor de mercado, nem chegam a ser pessoas, são activos descartáveis.

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