Este fim de semana no Meu
Alentejo o Velho Marrafa decidiu dar mais um contributo para a minha aprendizagem
de alentejano sabedor de segredos.
No sábado de manhã enquanto a anunciada chuva não chegava podámos uns
marmeleiros que precisavam, como diz o Velho Marrafa, de levar uma sova.
Durante a tarefa vejo-o a
escolher com cuidado uma vara maior e bem direita e perguntou-me se sabia como
se fazia um belo cajado. Tive que
confessar que entre os meus saberes não se contava tal competência. Explicou
então com aquele ar pausado e de olho brilhante. Depois de escolher uma vara bem
direita e quando se tiver um bocado de lume, queima-se a vara, sem deixar arder
é claro, a casca estala e larga facilmente.
Depois, caia-se com cal boa a vara e espera-se uns dias para que fique
muito bem seca. Raspa-se a cal e a vara fica bem dura resistente e com um tom
amarelo muito bonito. Está feito um pau de marmeleiro preparado para o que der
e vier.
Durante a tarde andámos "de posse",
como fala o Velho Marrafa, de umas casas de melão, melancia e de duas qualidades
de abóbora. Como tempo vai incerto e ainda frio, para facilitar a germinação
das sementes construíram-se umas para mim desconhecidas obras de arquitectura.
Com duas varas pequenas e finas, retiradas dos muitos loureiros que existem no
Monte, colocadas em cruz, dobradas e com as pontas espetadas na terra faz-se
uma espécie de estrutura que se cobre com um saco de plástico aberto, colocando
terra em cima da ponta do saco em toda a volta para que não se desloque. Fica
assim feita uma espécie de pequenina estufa por cima de cada cova com sementes.
Uma eficácia e um efeito extraordinário.
Dado que a tarde acabou sem que a
chuva prevista chegasse, o Velho Marrafa achou por bem dizer com toda a
autoridade que essa gente do tempo não acerta. Existem, explicou, três maneiras
infalíveis de saber se vem água. A primeira são as aranhas, há uma espécie que
faz uns buraquinhos muito redondos no chão e que se identificam, quem sabe é
claro, muito bem. Quando esses buracos têm uma tampa vem chuva de certeza, as
aranhas não se enganam, estando destapados a chuva anda longe. Uma outra forma
de saber é através das formigas, Existem umas que quando se aproxima a chuva fazem
uns "castelinhos" de terra muito perfeitos, quando se vêem esses
"castelos" a água é garantida. Finalmente, temos os barrancos onde
corre água, quando essa água leva espuma é certo que vem mais chuva. Não falha,
concluiu o Velho Marrafa.
Foi um sábado rico, aprendi a
fazer um pau de marmeleiro bem à maneira e bonito e a fazer previsões bem
feitas.
De repente lembrei-me do uso do
pau de marmeleiro e de uns artistas que passam a vida a fazer previsões que nunca
acertam e nos dão cabo da vida. Ainda me passaram algumas ideias pela cabeça,
mas eu sou um homem pacífico e, agora, um bocado mais culto. Aprende-se sempre
com o Velho Marrafa.
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