sábado, 30 de março de 2013

"QUANDO O POVO TEM FOME, TEM DIREITO A ROUBAR", Belmiro de Azevedo, 20/06/10

Ao que se lê no Público os alimentos tornaram-se o segundo produto mais roubado nas superfícies comerciais a seguir aos artigos de higiene pessoal. Assim sendo, regista-se a continuidade da preocupação com o aspecto e com a aroma que deixamos, são importantes a imagem e a limpeza, e emerge a necessidade de aconchego do estômago, próprio ou familiar, provavelmente mais um efeito colateral da crise. No entanto, é de recordar a afirmação de Belmiro de Azevedo, em 20/06/2010 numa palestra no ISG, que defendia a legitimidade do roubo quando se tem fome, pelo que até se estranha a regularidade com que os grupos económicos processam pessoas que roubam alimentos de valor insignificante. Certamente que a marca Continente e as outras insígnias do grupo Sonae assim não procedem.
Estando nós mais habituados a uma actividade nesta área realizada na escala dos milhões, muitos, que voam da banca, de empresas em falências fraudulentas, em comissões mal explicadas, em inconsequentes derrapagens financeiras nas obras públicas sendo ainda que tudo isto se passa na maior das impunidades é, devo confessar, sempre com alguma perplexidade que vejo a captura e julgamento destes pilha galinhas, bandidos saqueadores e perigosos enquanto os seus colegas de actividade, mas de outra dimensão, de outra escala, se passeiam por aí dedicando-se à sua lucrativa arte e vivem tranquilamente à sombra dos rendimentos.
É importante que estes casos de actividade delinquente cheguem a julgamento e sejam severamente condenados para, por um lado, alimentar a ideia de que a justiça funciona e, por outro lado, devolver-nos um sentimento de confiança nessa justiça e de que percepção de impunidade instalada é, evidentemente, falsa.
Com este regresso dos pilhas galinhas damos mais um passo na desejada democratização da nossa economia, roubam todos, é apenas uma questão de escala.
Numa nota final, confesso que sinto uma adolescente e romântica simpatia pelos pilha-galinhas.

1 comentário:

Kruzes Kanhoto disse...

Desde que não roubem nada meu...