Aproxima-se a época dos exames, a poção mágica na
qual radica a melhoria da qualidade do trabalho educativo de alunos e
professores no entendimento de Nuno Crato. O MEC parece ter estabelecido que os
alunos do 4º ano que vão realizar pela primeira vez exames obrigatórios e
nacionais sejam concentrados tanto quanto possível nas escolas sedes dos
agrupamentos. A razão desta deslocalização será, obviamente, de natureza
logística, fica bastante mais fácil e barato. Se os exames e os procedimentos são justificados
do ponto de vista dos miúdos e dos benefícios globais é uma outra questão, o que
importa são os exames e a poupança.
Os representantes dos pais referem face a esta
orientação a existência de um risco de ansiedade acrescida por parte dos miúdos
devido à mudança, realizar o exame numa escola diferente.
Do meu ponto de vista, esta não é uma questão, os
miúdos estão habituados a realizar tarefas escolares de avaliação de
conhecimentos. O que pode ser gerador de ansiedade em alguns miúdos é o
discurso de alguns adultos, pais ou professores, e a pressão criada por esses
discursos.
A questão central, peço desculpa pela
insistência, no papel e função de exames nacionais obrigatórios e com peso no
trajecto dos alunos, situação que não se verifica em boa parte dos países com
bons resultados escolares.
Não estando, evidentemente, em discussão a
importância, a vários níveis dos exames, escapa-me como o seu aumento produza,
só por si, qualidade e mudança. Os discursos que oiço na defesa dos exames não
explicitam os ganhos de que aí advirão em termos de qualidade. A anterior Secretária
de Estado do Ensino Básico afirmou em profunda reflexão serem muito importantes
para que os meninos se habituem a realizar provas de conhecimento. Sem dúvida,
mas para isso são necessários exames nacionais?
A introdução dos exames como panaceia da
qualidade promove, do meu ponto de vista, o risco do trabalho escolar se
organizar centrado na preparação dos alunos para a multiplicidade de exames que
realizam como muitos professores têem vindo a alertar e é reconhecido, por
exemplo pela OCDE em relatório de há uns meses sobre a avaliação no sistema
educativo português. Curiosamente, as posições da OCDE são usadas ao sabor da
agenda.
Como tantas vezes afirmo, a qualidade promove-se,
é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das
aprendizagens, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos
professores, com a definição de currículos adequados e de vias diferenciadas de
percurso educativo para os alunos sempre com a finalidade de promover
qualificação profissional, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos
e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas
que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de
organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto
e médio prazo, etc. O problema é que de há muitos anos a educação anda à deriva
das agendas políticas.
A existência de exames nacionais, logo no 4º e 6º
anos, obrigatórios e com peso na nota final, corre o risco de sustentar um discurso
demagógico, as referências a exigência e a rigor vendem bem, que deixa de lado
os aspectos mais essenciais, a necessidade de promover qualificação para todos,
sublinho todos, os alunos e, insisto, a disponibilização de apoios a alunos e
professores.
Nesta perspectiva, continuo pouco convencido da
imprescindibilidade destes exames, assim estruturados, seja qual for a escola
em que se realizem.
Sem comentários:
Enviar um comentário