No que me parece ser uma iniciativa interessante,
o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social pretende alargar a rede de
Centros de Noite, estruturas já existentes mas em pequeno número, destinadas a acolher
idosos que vivem sós e que, dadas as suas condições de vida e autonomia,
poderão manter-se durante o dia na sua casa, no seu aconchego e vizinhança, recorrendo
aos Centros apenas durante a noite.
O número de idosos a viver sós tem aumentado
exponencialmente. Segundo os dados dos Censos de 2011, cerca de 1,2 milhões de
idosos vivem sozinhos ou na companhia de outros idosos, sendo que o grupo populacional com 65 ou mais
anos de idade já ultrapassou os dois milhões, representando cerca de 19% da
população total, pelo que o número de pessoas idosas a viver só, deverá
continuar a aumentar.
Neste universo é ainda de recordar a frequência
com que surgem notícias de velhos que morrem sós sem que ninguém se dê conta de
tal tragédia.
Não sou, não quero ser, especialista nestas
matérias mas creio que muitas destas pessoas morrem de sozinhismo, a doença que
ataca os que vivem sós e perderam o amparo. Algumas pessoas terão morrido de
solidão e não de outras causas que possam vir a figurar nas certidões. Quem não
vive só mais facilmente resiste às mazelas que a idade traz quase sempre. As
pessoas são, espera-se, fonte de saúde e calor. E este universo, as pessoas
velhas que vivem só e em isolamento tende a alargar-se conforme os dados do
Censo confirmam. Em Lisboa, segundo alguns trabalhos, estima-se uma
"realidade de total isolamento diário para 59 por cento da população que
reside sozinha, evidenciando um risco de solidão” e completamente dependentes
das relações de vizinhança comunitária, elas próprias em extinção. Este cenário
ilustra o contexto em que uma rede eficaz e próxima de Centros de Noite pudesse
ter um papel muito positivo se entretanto não tiver enviesamento de objectivos.
Na verdade, o sozinhismo poderá ser
verdadeiramente a causa de morte de muitos idosos. No entanto e como sempre,
para além das necessárias políticas sociais emergentes do estado e das instituições
privadas de solidariedade impõe-se a percepção pelas comunidades,
designadamente pelas famílias, do drama da solidão e do isolamento. Os dados
recolhidos e, portanto, conhecidos devem servir de base a políticas ajustadas à
realidade.
É também uma questão de redes sociais, mas não
das virtuais.
Sem comentários:
Enviar um comentário