A propósito de um texto de Paulo Guinote no
Público sobre o universo dos professores e dos inúmeros comentários suscitados,
não resisto a retomar umas notas já por aqui referidas de quando em vez.
Nos últimos tempos e sem estranheza, também no
nosso país começaram a emergir e ganhar visibilidade as abordagens ao universo
educativo vindas da área da economia e da gestão, o que tem sustentado a
elaboração de estudos e a vinda de especialistas neste tipo de análises. Dois
exemplos. Um estudo desenvolvido pelo ISEG-UTL conclui que as variáveis
exteriores à escola, (nível de escolaridade dos pais, por exemplo) explicam
apenas 30% do sucesso dos alunos no ensino secundário, ou seja, 70% é explicada
pelo trabalho das escolas, dos professores. Uma outro exemplo, numa conferência
realizada em Lisboa, o Professor Erik Hanushek, economista da educação, como
não podia deixar de ser, sublinhou o factor "qualidade do trabalho do
professor" como a chave do sucesso na educação, mesmo no sentido de
contrariar desigualdades sociais de origem nos alunos. De há muito que no
interior das ciências da educação é esse o entendimento, agora recebe a
chancela dos economistas. Cito com frequência uma afirmação de 2000 do Council
for Exceptional Children, "o factor individual mais contributivo para a
qualidade da educação é a existência de um professor qualificado e
empenhado".
Neste quadro, parece-me sempre importante
sublinhar algo que de tão óbvio por vezes se esquece, a importância essencial e
a responsabilidade que o trabalho dos professores assume na construção do
futuro. Tudo passa pela escola e pela educação. Assim sendo, as mudanças na
educação só podem ocorrer e ser bem sucedidas com o envolvimento dos
professores, ideia, aliás, afirmada por Nuno Crato em Julho de 2011. Acontece que boa parte das
políticas educativas parecem assumir como alvo privilegiado, não a melhoria de qualidade
processos e de resultados mas a redução do número de professores e a alteração
das suas condições de trabalho.
Alguns dos discursos que de forma ligeira e
muitas vezes ignorante ocupam tempo de antena na imprensa parecem esquecer a
importância deste trabalho e das circunstâncias em que se desenvolve.
Pensemos no que é ser professor hoje, em algumas
escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística e consequente
guetização social produziram.
Pensemos em como os valores, padrões e estilos e
vida das famílias se alteraram fazendo derivar para a escola, para os
professores, parte do papel que compete à família.
Pensemos na forma como milhares de professores
cumprem a sua carreira de poiso, em poiso, sem poiso e sem condições. E não nos
esqueçamos também da imprescindível necessidade de que o seu trabalho seja
avaliado através de dispositivos sólidos, eficazes e justos de forma a proteger
a própria classe, os miúdos e as famílias.
Pensemos nos professores que nos ajudaram a
chegar ao que hoje cada um de nós é, aqueles que carregamos bem guardadinhos na
memória, pelas coisas boas, mas também pelas más, tudo contribuiu para sermos o
que somos.
Pensemos na deriva política a que o universo da
educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído
permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de
alunos, pais e professores.
Pensemos em como os professores são injustiçados
na apreciações de muita gente que no minuto a seguir à afirmação de uma
qualquer ignorante barbaridade, vai, numa espécie de exercício sadomasoquista,
entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata, depreendendo-se assim que,
ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores e os seus problemas.
Pensemos como é imprescindível que a educação e
os problemas dos professores não sejam objecto de luta política baixa e
desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por parte dos que se assumem
como seus representantes.
Pensemos em como a forma como os miúdos, pequenos
e maiores, vêem e se relacionam com os professores está directamente ligada à
forma como os adultos os vêem e os discursos que fazem.
Pensemos, finalmente, como ser professor deve ser
uma das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente.
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