segunda-feira, 24 de março de 2025

CRIANÇAS E JOVENS SEM EIRA NEM BEIRA

Lê-se no Público que, de acordo com dados do Projecto Rua constantes no Relatório de Actividades do IAC para 2024, o número de crianças e jovens acompanhados tem estado sempre a aumentar desde 2022. De 564 nesse ano, passou para 953 em 2024, um aumento de 47% face a 2023, com 648 casos na área metropolitana de Lisboa, a área de intervenção do IAC.

São crianças e jovens até aos 18 anos que com relações familiares vulneráveis ou inexistentes, situações de fuga de instituições, abandono escolar e a vaguear pela comunidade, sujeitos a riscos e perigos múltiplos.

O Projecto Rua do IAC é desenvolvido em parceria e com apoio de diversas entidades públicas e privadas. A intervenção tem eixos como o trabalho das equipas de rua, apoio psicológico e jurídico, actividades com crianças e jovens nas comunidades

stes dados são do Projecto Rua e estão no Relatório de Actividades do IAC para 2024, a que o PÚBLICO teve acesso, e que esta organização não governamental, que trabalha em cooperação e conta com o apoio de entidades públicas e privadas, começará em breve a divulgar em diferentes momentos por temática de intervenção: equipa de rua, mas também apoio psicológico ou jurídico, actividades junto das crianças na comunidade, entre ouras dimensões.

É um cenário dramático e expõe a falência de várias dimensões das nossas políticas públicas nestas áreas.

Já me cansa o discurso de que o país está bem, as contas estão bem, mas … as pessoas, em particular as mais vulneráveis estão mal. Seja na infância e juventude, seja a habitação nos adultos que deixa milhares de pessoas sem um tecto seguro, sem o cumprir de direitos básicos garantidos constitucionalmente.

As respostas a este universo de problemas, está sempre aquém das necessidades e os recursos são sempre insuficientes, mas sempre com mais ou menos anúncios de Projectos e Planos que deixam as pessoas de lado.

O trabalho desenvolvido junto de crianças e jovens em situação altamente vulnerável por várias entidades, desde logo escolas ou Comissões de Protecção, estão muito longe do que seria necessário.

Este contexto leva a que ocorram situações, frequentemente com contornos dramáticos, envolvendo crianças e jovens que, sendo conhecida a sua condição de vulnerabilidade não têm, ou não tiveram, o apoio e os procedimentos necessários. Ouve-se então uma das expressões que me deixam mais incomodado, a criança ou o jovem estava “sinalizada(o)” ou “referenciada(o)” o que foi insuficiente para a adequada intervenção. Em Portugal sinalizamos e referenciamos com relativa facilidade, a grande dificuldade é minimizar ou resolver os problemas referenciados ou sinalizados.

A falta de eficácia e de recursos nos processos de intervenção em situações mais precoces tem como consequência a emergência de problemas e situações com custos pessoais e socias severos e, como consta do Relatório, a aumentar em número.

Tudo isto tem custos insustentáveis para os próprios e para as comunidades.

Vamos entrar em campanha eleitoral, já se ouve de tudo menos o que podemos esperar das políticas públicas dirigidas às pessoas, mais novas e mais velhas.

Gostava de estar optimista, mas não vejo muito por onde.


Sem comentários: