Já aqui tenho abordado esta questão. Continuo a encontrar com razoável frequência a referência a iniciativas dirigidas à formação de professores e de outros profissionais do universo da educação na área da relação, da emoção ou algo próximo.
Estas iniciativas apresentam-se com
diferentes formatos e ainda maior diversidade nas designações.
Como sabe quem anda por estas
lidas, para além dos rigores do Inverno, as escolas são também geladas
emocionalmente, a generalidade dos professores não sabe lidar com emoções, tal
como alunos, os psicólogos e técnicos que estão nas escolas incluindo os funcionários.
Dito da maneira actual, não estão capacitados.
Percebe-se, assim, que nos
últimos tempos se tenha desencadeado uma onda de promoção, perdão, capacitação,
nas escolas através de imensos projectos e iniciativas de escala variável
visando o desenvolvimento da inteligência emocional, da empatia, da educação
relacional ou outras designações.
É sempre importante registar o
esforço no âmbito da formação, aliás, capacitação, dos profissionais da
educação, mas, certamente por incompetência ou desconhecimento, vou sentindo
algumas reservas face a esta onda, quer pela visão mágica com que parece ser
informada, quer pela regular apresentação de um receituário ou programa que
garante que se vai aprender a fazer o que nunca foi feito nas escolas “lidar
com as emoções” independentemente da formulação. Dito isto, sublinho e não
tenho dúvidas que em muitas circunstâncias nos confrontamos com dificuldades
neste domínio que solicitam apoio e ajuda.
As alterações nos estilos de
vida, nos valores sociais, culturais, económicos, etc., nos modelos de
desenvolvimento económico e consequente visão política, o risco associado às
consequências de algumas políticas educativas parecem ter criado um tempo em que
emerge a necessidade ou obrigatoriedade de “trabalhar” as emoções nos contextos
educativos.
Os climas sociais e de
aprendizagem em diferentes escolas e salas de aula nem sempre são
particularmente amigáveis para todos os alunos, como também não são para
professores como múltiplos estudos evidenciam.
Talvez tenhamos de reflectir
sobre isto e retomar coisas velhas, nada “inovadoras”, nada
"revolucionárias", nenhum “novo paradigma”. A educação escolar é
estruturada e alimentada pela relação e comunicação que, para que existam e
sejam positivas, têm como ingrediente … a emoção.
Nas minhas conversas por aí sobre
estas coisas da educação desafio muitas vezes pais ou professores a recordarem
muito brevemente professores de quem guardam boas memórias. Quando lhes
pergunto porquê, as justificações remetem muito significativamente para a
relação que com eles tiveram, para além do que com eles aprenderam das “coisas
da escola”.
É verdade, por estranho que possa
parecer há professores, muitos professores, que sabem lidar com as emoções, mas
… aprender sempre.
Como dizia em cima, a educação
escolar, a acção do professor, tem esse princípio fundador, assenta na relação
que se operacionaliza na comunicação e se tempera com a emoção. Também por isso
são também preocupantes os tempos que vivemos em que os professores têm pouco
tempo para comunicar, para conversar com os alunos e as emoções, por vezes,
entram em turbulência e descontrolo.
Também a pressão para os
resultados, a natureza dos conteúdos e gestão curriculares ou o número de
alunos por turma por exemplo, dificultam essa relação. O professor “fala com o
programa”, a maioria dos alunos entende, outros não e com esses é preciso falar,
mas … para os mandar calar ou até sair. Há pouco tempo para conversar.
O Mestre João dos Santos quando
afirmava que alguém tinha sido seu professor justificava, "porque foi meu
amigo", traduzindo para uma linguagem mais actual, "estava capacitado
para gerir as minhas emoções, tinha empatia". São assim os professores que
nos marcaram de forma positiva.
Sendo certo que precisamos de
ajustamentos regulares no que fazemos, no como fazemos e para que fazemos, não
“inovemos” tanto, não queiramos tantos “novos paradigmas”, não
"mudemos" tudo pela ilusão mágica da mudança.
Criemos, apenas, o tempo e o modo
para que nas salas de aula os professores e os alunos, todos os professores e
todos os alunos, tenham o tempo e a circunstância que lhes permita comunicar,
entre si, com a razão e com a emoção.
Irão aprender e ser.
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