Em 26 de Fevereiro de 2013, o Secretário de
Estado do Ensino e da Administração Escolar, Casanova de Almeida, afirmou à FNE
que "não haverá despedimentos de professores, nem colocação em mobilidade
especial contra a vontade do próprio, nem aumento do horário de trabalho dos
docentes”. Em 20 de Março de 2013 o Ministério da Educação e da Ciência (MEC)
anunciou que os professores com "horário zero" poderão passar, já a
partir do próximo ano lectivo, ao regime de
mobilidade especial.
Estranho? Não, apenas mais um exemplo da qualidade
ética e da competência de quem governa a educação, e não só em Portugal.
Lamentavelmente já pouca coisa nos pode surpreender
desta gente, meros contabilistas de contas sempre erradas, arautos da
competência e do rigor.
Soube-se há pouco tempo que apenas meia dúzia dos
descartáveis seriam recicláveis, ou seja, para as 603 vagas para o quadro de
professores aberto pelo MEC apresentaram-se a concurso cerca de 23 000
candidatos, pessoas que, de acordo com os requisitos, são “docentes com
exercício efectivo de funções docentes com qualificação profissional, em pelo
menos 365 dias, nos três anos lectivos imediatamente anteriores ao da data de
apresentação do concurso” e com “avaliação de desempenho com menção qualitativa
não inferior a ‘Bom’ naquele período”, ou seja, não são pessoas que se
candidatam a um primeiro emprego de professor mas de profissionais com vários
anos de serviço que não obtendo colocação ficam, de facto, despedidos. Aliás,
como também é conhecido, segundo a Associação dos Professores Contratados,
existem cerca de 11 000 professores em situação de contratados há mais de 10
anos e à volta de 1000 com mais de 18 anos nesta inaceitável situação, o que
motivou a Associação a alertar Bruxelas para este cenário que fere directivas
europeias e para o qual o Provedor de Justiça também já chamou a atenção sobre
o seu enquadramento legal no que diz respeito ao abuso de contratos a termo.
O Ministério sustenta o número de vagas definido
com “a actual conjuntura económica e financeira” pelo que promove “a
empregabilidade possível”, sendo que as “vagas colocadas a concurso foram
definidas em função das necessidades reais e futuras do sistema”.
Como já tenho referido, parece-me claro que a
questão do número de professores necessário ao funcionamento do sistema é uma
matéria bastante complexa que, por isso mesmo, exige serenidade, seriedade,
rigor e competência na sua análise e gestão, exactamente tudo o que tem faltado
neste processo, incluindo a alguns discursos de representantes dos professores.
Para além da questão da demografia escolar que,
aliás, o MEC tratou de forma incompetente e demagógica, importa não esquecer
que existem muitos professores deslocados de funções docentes, boa parte em
funções técnicas e administrativas que em muitos casos seriam dispensáveis pois
fazem parte de estruturas do Ministério pesadas, burocráticas e ineficazes que,
aliás, o ministro Nuno Crato achou que deveriam implodir. Para já, o risco de
implosão ameaça mais a escola pública que o Ministério.
Por outro lado, os modelos de organização e
funcionamento das escolas, com uma série infindável de estruturas intermédias e
com um excesso insuportável de burocratização, retiram muitas horas docentes ao
trabalho dos professores que estão nas escolas.
No entanto e do meu ponto de vista, o “excesso”
de professores no sistema e sem trabalho deve ser também analisado à luz das
medidas da PEC – Política Educativa em Curso. Vejamos alguns exemplos.
Em primeiro lugar, a mudança no número de
professores necessário decorre do aumento do número de alunos por turma que,
conjugado com a constituição de mega-agrupamentos e agrupamentos leva que em
muitas escolas as turmas funcionem com o número máximo de alunos permitido e,
evidentemente, com a as implicações negativas que daí decorrem.
As mudanças curriculares com a eliminação das
áreas não curriculares que, carecendo de alterações registe-se, também produzem
um desejado e significativo “corte” no número de professores, a que acrescem
outras alterações no mesmo sentido.
O Ministro “esquece-se” obviamente destes
“pormenores”, apenas se refere à demografia, em termos errados e habilidosos, e
aos recursos disponíveis para, afirma, definir as necessidades do sistema,
processo obviamente incompetente.
Este conjunto de medidas, além de outras, sairão,
gostava de me enganar, muito mais caras do que aquilo que o MEC poupará na
diminuição do número de docentes, que ficarão no desemprego, muitos deles tendo
servido o sistema durante anos.
Ficarão sem trabalhar, não porque sejam
incompetentes, a maioria não o é, não porque não sejam necessários, a maioria
é, mas “apenas” porque é preciso cortar, custe o que custar.