A imprensa divulga hoje alguma informação sobre o
Plano de Prevenção do Suicídio que será apresentado em Março.
Do que se conhece, releva a proposta de aumento
do preço das bebidas alcoólicas, o aumento dos programas de apoio ao emprego e dos
apoios disponíveis para famílias atingidas pelo desemprego. Estas propostas radicam
no papel, sustentado por alguns especialistas, do consumo do álcool, da crise e
o desemprego como gatilho para comportamentos suicidas. Não vou neste espaço discutir este entendimento, que merece discussão, mas algumas notas de carácter genérico.
Na verdade e para além do suicídio, muitos
especialistas têm vindo a alertar para o acréscimo de casos de perturbação da
saúde mental relacionados com as situações sociais graves em que muitas pessoas
são envolvidas no âmbito da crise profunda que atravessamos, designadamente em
casos de desemprego e insuficiência de recursos que sustentem a vida e, mais
importante, a dignidade.
É também sabido que Portugal tem uma das mais
altas taxas de consumo de psicofármacos bem como da prevalência de alguns
quadros clínicos nesta área, o que é um indicador importante sobre a qualidade
da nossa saúde mental e bem-estar.
Por outro lado, também de acordo com os
especialistas, a falta de meios e recursos transforma o Plano Nacional de Saúde
Mental num enunciado bem intencionado, mas inconsequente e desajustado às
necessidades.
A doença mental é algo que, obviamente, não
constitui uma preocupação significativa em matéria de saúde em Portugal.
Eu gostava de ser optimista e acreditar que as propostas possa merecer
acolhimento mas a experiência tem mostrado que a doença mental é, nas mais das
vezes, um parente pobre no universo das políticas de saúde. No que respeita ao
preço das bebidas alcoólicas até pode acontecer que se veja nisso uma hipótese
de aumento das receitas do estado e por essa via seja aceite. No entanto, as
práticas recentes e os discursos sobre a reforma do Estado e as
"orientações" do FMI duvido fortemente no aumento dos apoios para as política de
emprego e, sobretudo, dos apoios sociais às famílias.
Quando a pobreza das pessoas aumenta e a pobreza
dos meios e recursos também aumenta, o quadro é ainda mais grave.
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