quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

SAÚDE MENTAL, PARENTE POBRE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE

A imprensa divulga hoje alguma informação sobre o Plano de Prevenção do Suicídio que será apresentado em Março.
Do que se conhece, releva a proposta de aumento do preço das bebidas alcoólicas, o aumento dos programas de apoio ao emprego e dos apoios disponíveis para famílias atingidas pelo desemprego. Estas propostas radicam no papel, sustentado por alguns especialistas, do consumo do álcool, da crise e o desemprego como gatilho para comportamentos suicidas. Não vou neste espaço discutir este entendimento, que merece discussão, mas algumas notas de carácter genérico.
Na verdade e para além do suicídio, muitos especialistas têm vindo a alertar para o acréscimo de casos de perturbação da saúde mental relacionados com as situações sociais graves em que muitas pessoas são envolvidas no âmbito da crise profunda que atravessamos, designadamente em casos de desemprego e insuficiência de recursos que sustentem a vida e, mais importante, a dignidade.
É também sabido que Portugal tem uma das mais altas taxas de consumo de psicofármacos bem como da prevalência de alguns quadros clínicos nesta área, o que é um indicador importante sobre a qualidade da nossa saúde mental e bem-estar.
Por outro lado, também de acordo com os especialistas, a falta de meios e recursos transforma o Plano Nacional de Saúde Mental num enunciado bem intencionado, mas inconsequente e desajustado às necessidades.
A doença mental é algo que, obviamente, não constitui uma preocupação significativa em matéria de saúde em Portugal.
Eu gostava de ser optimista  e acreditar que as propostas possa merecer acolhimento mas a experiência tem mostrado que a doença mental é, nas mais das vezes, um parente pobre no universo das políticas de saúde. No que respeita ao preço das bebidas alcoólicas até pode acontecer que se veja nisso uma hipótese de aumento das receitas do estado e por essa via seja aceite. No entanto, as práticas recentes e os discursos sobre a reforma do Estado e as "orientações" do FMI duvido fortemente  no aumento dos apoios para as política de emprego e, sobretudo, dos apoios sociais às famílias.
Quando a pobreza das pessoas aumenta e a pobreza dos meios e recursos também aumenta, o quadro é ainda mais grave.

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