Enquanto se aguarda pela anunciada iniciativa
legislativa de as criminalizar, continua a comercialização das designadas drogas
legais nas chamadas “smartshops” ao abrigo de uma ambiguidade legal que tem
graves consequências. João Goulão, presidente do Instituto da Droga e da
Toxicodependência tem vindo a alertar para o aumento do consumo e para a crescente
gravidade e número de problemas de saúde daí decorrentes. Hoje, em Beja,
três adolescentes foram hospitalizadas por esse motivo.
Uma das razões que alguns estudos identificam
para o consumo deste tipo de substâncias é justamente o facto de serem
“legais”, ou seja, se são legais é porque “não fazem mal”, como alguns jovens
consumidores afirmam.
A “smartshop” de Beja onde as adolescentes terão adquirido
as substâncias já tinha sido encerrada pela ASAE e encontrava-se de novo em
funcionamento.
Existem algumas matérias que por variadíssimas
razões sempre deverão estar na agenda das preocupações, a questão da droga e
dos vários tipos de consumo, incluindo o álcool, é uma dessas matérias.
Nos últimos dias foi também notícia o aumento do
consumo e das reincidências atribuíveis ao quadro de dificuldades que
atravessamos e à fragilização pessoal e social que essas dificuldades possam
induzir.
Todo este quadro torna verdadeiramente necessária
uma política de prevenção, tratamento e combate ao tráfico eficaz e, tanto
quanto possível, com os recursos adequados.
Há algum tempo foi noticiado que em virtude dos
limites orçamentais o Instituto da Droga e da Toxicodependência iria prescindir
dos serviços de algumas centenas de técnicos, psicólogos e assistentes sociais,
que integravam as unidades de tratamento de proximidade com resultados
conhecidos. O IDT procederá ainda ao encerramento de unidades de atendimento ao
nível concelhio em vários locais do país levando os especialistas a referir as
consequências negativas de tal decisão.
Existem áreas de problemas que afectam as
comunidades em que os custos da intervenção são claramente sustentados pelas
consequências da não intervenção, ou seja, não intervir ou intervir mal é
sempre bastante mais caro que a intervenção correcta em tempo oportuno. A toxicodependência
e o consumo do álcool são exemplos dessas áreas.
Quadros de dependência não tratados
desenvolvem-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa
espiral de consumo que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência.
Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico,
reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho
profissional, promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez
custos sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Os consumos, de diferentes substâncias,
designadamente por parte dos adolescentes e jovens podem relacionar-se com
alguma negligência paternal mas, na maioria dos casos, trata-se de pais, que
sabem o que se passa, “apenas fingem” não perceber, desejando que o tempo “cure”
porque se sentem tremendamente assustados, sem saber muito bem o que fazer e
como lidar com a questão. De fora parece fácil produzir discursos sobre
soluções, mas para os pais que estão “por dentro” a situação é muitas vezes
sentida como maior que eles, justificando-se a criação de programas destinados
a pais e aos adolescentes que minimizem o risco do consumo excessivo.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é
caro, façam as contas aos resultados do descuidar.
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