domingo, 6 de janeiro de 2013

O HOMEM QUE QUERIA SER VENDEDOR, MAS NÃO SABIA DE QUÊ

Naquela terra onde acontecem coisas, a vida ia complicada, as pessoas sentiam muita dificuldade em encontrar emprego e sentir-se bem. Os governantes insistiam que era preciso ser empreendedor, criativo, fazer das dificuldades uma oportunidade, ter uma visão, enfim, como dizia o povo daquela terra, desenrascar-se.
Um Homem, cansado de tanta luta para viver, começou a pensar como dar andamento ao que sugeriam os governantes. Achou que uma ideia poderia ser vender algo, aliás, sempre julgou que teria algum jeito para vender. A dificuldade era decidir o que vender para que a iniciativa pudesse ser bem sucedida.
Teria de ser algo que toda gente quisesse ou precisasse. Os mais novos, os mais velhos, os mais ricos, os mais pobres, os homens, as mulheres, os mais letrados, os menos letrados, ou seja, toda a gente. Não vai ser fácil, pensou.
Teria de ser algo que fosse necessário ou utilizado em qualquer circunstância de qualquer natureza. No trabalho das pessoas, na escola dos miúdos, nas relações da gente, mais formais ou mais informais, nos negócios de qualquer área, no universo da política ou da cultura, ou seja, em tudo o que envolvesse pessoas. Não vai ser fácil, pensou.
Deve dizer-se que o Homem pensou muito tempo e não vislumbrava o que poderia ser o seu caminho.
Um dia, absorto na busca pela ideia, a sua atenção dirigiu-se para um debate que passava na televisão onde uma série de gente importante discutia como resolver os problemas das pessoas, todos os problemas.
De repente, num sobressalto, gritou, "já sei", vai ser um sucesso. Decidiu vender mentiras. Ninguém, mesmo ninguém, passa sem elas.

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