Desde Camões que sabemos que o mundo é composto
de mudança, tomando sempre novas qualidades, umas mais simpáticas que outras,
deve dizer-se.
Num relatório hoje divulgado da
responsabilidade da Europol e do Observatório Europeu das Drogas e da
Toxicodependência, Mercados de Drogas na UE – Análise Estratégica , referem-se
mudanças significativas na produção, compra e venda de drogas ilícitas por
recurso às novas tecnologias.
Nesta matéria, recordo um relatório de Novembro
de 2012, também do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência que
referia o aparecimento em 2011 de 49 novas drogas que são basicamente
comercializadas através das smartshops, ao abrigo do modelo “alternativas lícitas
às drogas ilícitas” assente em algumas ambiguidades legais. O mesmo relatório
afirma que em 2012 já estão identificadas 50 novas drogas. Como é conhecido,
espera-se legislação sobre esta actividade que leva a incidentes de saúde
severos como aconteceu há dias em Beja.
Por outro lado, é ainda de salientar a tendência
crescente, como o relatório agora conhecido evidencia, da utilização da net e
das redes sociais como suporte à venda de drogas ou medicamentos. Nada de
surpreendente, poderíamos mesmo dizer, sinais dos tempos. Se as redes sociais
podem assumir papéis significativos em movimentos sociais e políticos, porque
não no tráfico de droga, uma das mais lucrativas actividades dos nossos dias.
Este cenário, não só pelas suas consequências,
mas pela “facilidade” de funcionamento e da dificuldade do combate, necessita
de uma política séria de prevenção e tratamento para além do combate ao tráfico
que possa, tanto quanto possível, contar com os recursos adequados.
A questão preocupante e que tem sido motivo
regular de alerta por parte de especialistas, é que os cortes e ajustamentos
nos recursos humanos e materiais disponíveis possam criar sérios
constrangimentos na prevenção e combate do consumo e ao tráfico.
Como muitas vezes tenho escrito, existem áreas de
problemas que afectam as comunidades em que os custos da intervenção são
claramente sustentados pelas consequências da não intervenção, ou seja, não
intervir ou intervir mal é sempre bastante mais caro que a intervenção correcta
em tempo oportuno. A toxicodependência e o consumo do álcool são exemplos
dessas áreas.
Quadros de dependência não tratados
desenvolvem-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa
espiral de consumo que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência.
Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico,
reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho
profissional, promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez
custos sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é
caro, façam as contas aos resultados do descuidar.
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