sábado, 5 de janeiro de 2013

BOM POVO PORTUGUÊS

Já se torna difícil descrever a situação gravíssima que o país atravessa, sobretudo, os níveis de desemprego, pobreza e desesperança.
Neste quadro, causam-me sempre um enorme embaraço os discursos produzidos por muitas figuras nacionais e internacionais com fortíssimas responsabilidades na situação que vivemos.
Um bom exemplo disto é a entrevista de Christine Lagarde, directora do FMI, ao Expresso.
Ao longo da entrevista, uma das responsáveis pelo programa de “ajustamento” que transformou Portugal numa feitoria administrada em nome dos mercados, referiu a “coragem dos portugueses”, a enorme “determinação colectiva” ou “a execução do programa está a correr bem”.
Na verdade, quase milhão e meio de desempregados são corajosos e determinados, perto de 3 milhões de portugueses em risco de pobreza sentem a execução do programa a correr bem. Miúdos com fome nas escolas exemplificam a determinação e coragem exigidas pelos sacrifícios, etc., etc.
Este tipo de afirmações cola-se aos famosos e nacionais “ai aguenta, aguenta” de Fernando Ulrich, ao “melhor povo do mundo” de Vítor Gaspar, ao “nada me pesa na consciência” de Miguel Relvas, ou a mítica referência de Cavaco Silva à insuficiência das suas reformas.
Eu sei que discursos como o que estou a escrever conterão sempre alguma ponta de demagogia mas, o despudor e a ligeireza com que esta gente abre a boca, fere a sensibilidade e solidariedade devida a gente que está a passar mal, muito mal, em nome, dizem, de um futuro que muitos não terão nem vislumbram.

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