As remessas dos emigrantes registaram a maior subida desde 1997
tendo aumentado 12,6% face a 2011 e considerando apenas dados até Outubro.
Creio que uma das causas para tal situação pode admitir-se o facto de que
desde 1998 mais de um milhão de portugueses emigrou sendo que em 2011 se
estima, fonte da Secretaria de Estado das Comunidades, que mais de 100 000
portugueses tenham partido, esperando-se que em 2012 o número suba. Acresce que
a par da Irlanda, somos o país de onde sai gente com maior qualificação.
Este aumento das remessas, uma
versão lusa e solidária da "ajuda externa" sendo importante recorda um país triste, pobre, rural de há décadas em
que as remessas eram um enorme apoio para as nossas contas e para as famílias.
Já o
tenho referido, somos um país de emigrantes de há séculos pelo que este
movimento, só por si, não será de estranhar. No entanto, creio que é
preocupante constatarmos que durante muitos anos a emigração se realizava na
busca de melhores condições de vida, a agora a emigração realiza-se à procura
da própria vida, muita gente, sobretudo jovens não tem condições de vida, tem
nada e parte à procura, não de melhor, mas de qualquer coisa.
Este vazio que aqui se sente é angustiante,
sobretudo para quem está começar, se sente qualificado e com o desejo de
construção de um projecto de vida viável e bem sucedido.
Alguns inquéritos junto de estudantes
universitários mostram como muitos, a maioria, admite emigrar em busca de
melhores condições de realização pessoal e profissional apesar de muitos
afirmarem que pretendem voltar.
Lembramo-nos ainda da intervenção do Ministro
Miguel Relvas, que certamente não precisaria de emigrar, tem o seu futuro garantido
dentro de portas por efeitos do alpinismo partidário, ao afirmar, dirigindo-se
a jovens qualificados, "ide procurar fora de portas o vosso futuro”.
Parece-me relativamente claro que quando se fala
de emigração, a questão central nesta matéria não é o movimento que desde há
muito os portugueses realizam de procurar trabalho fora do país, trata-se
também da construção de um projecto de vida auto-determinado. Sabemos, aliás,
que é desejável em diferentes perspectivas, que estes fluxos se realizem.
O que me parece fortemente significativo é o que
representa de descrença de tanta gente, de que seja possível desenvolver um
projecto de vida viável e com potencial de realização pessoal e profissional no
nosso país.
Podemos sempre esperar que depois de se
instalarem no país de acolhimento, as saudades, as famílias que ficaram e a
vontade de voltar expressa por muitos, os portugueses se sintam motivados para continuar a fazer chegar a este jardim as
"remessas".
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