O terreno continua a ser
preparado para sustentar os cortes nas dotações orçamentais para a educação.
Agora trata-se do Banco de
Portugal que num estudo, mais um, vem sustentar que, apesar da evolução dos
resultados dos estudantes portugueses no PISA de 2009, estes resultados não são
ainda compatíveis com a despesa na educação pelo que, tinha de ser, existe
"margem para redução da despesa e ganhos adicionais ao nível da
eficiência”.
Os autores sustentam a conclusão
pelo facto de ao comparar os indicadores portugueses com os dos países europeus
que obtiveram as melhores médias de resultados em matemática, leitura e
ciências, Estónia, Finlândia e Holanda, Portugal
apresentou uma despesa superior em educação à destes países em 2009, e ainda
assim, “resultados mais desfavoráveis que a média da área euro”, sublinham em
abono das suas teses.
Dada a natureza deste espaço,
duas ou três notas breves.
De há muito que se reconhece que
o estudo nem a promoção da qualidade na educação não pode, não deve, assentar
exclusivamente numa lógica de "input-output", ou seja, quanto é que
se gasta, qual é o resultado. A qualidade dos processos educativos depende de
um conjunto extremamente complexo de variáveis e processos que devem ser obrigatoriamente
considerados, alguns dos quais, curiosamente o estudo aborda.
Um primeiro aspecto remete para o
ponto de partida, ou seja, comparar os resultados dos alunos em 2009 com gastos
nos sistemas em 2009 esquece a história anterior e o patamar de partida dos
alunos e a evolução dos sistemas que
servem de comparação, dito de outra maneira, manter um sistema razoavelmente
eficaz a funcionar é, naturalmente, mais económico que estruturar um sistema
pouco eficaz que há poucos anos apresentava níveis de insucesso absolutamente
devastadores. Aliás, o próprio MEC entende que na avaliação das escolas deve
ser ponderado o seu nível de progresso e não só a comparação com outras
escolas.
O estudo retoma também um tema
velho, o ratio professor/aluno, expressando que é baixo e que encarece o sistema
pelo que ... talvez se possam cortar professores, o FMI estima em 50 000, coisa
pouca. Talvez fosse interessante considerar as contas de 2012 e verificar os
actuais ratios. Do meu ponto de vista, mais uma vez é curto ver a questão em
termos de quantos professores, quantos alunos e ... é só fazer as contas. O
sistema português tem modelos de organização dos agrupamentos e das escolas que
exigem e absorvem muitas horas de professores em trabalho não docente, tarefas
burocráticas, desarticuladas e com pouca eficácia. Entendo que aqui poderemos,
na verdade, optimizar recursos, não para dispensar professores e cortar
despesa, simplesmente, mas para aumentar a qualidade do trabalho.
A PEC - Política Educativa em
Curso, numa espécie de política contabilística, assenta nesta lógica, corta nos
inputs, meios humanos e económicos, e espera que subam os outputs, os resultados
alterando pouco e mal os processos e as outras variáveis.
Como muitas vezes afirmo é
fundamental intervir nos processos mas numa base promotora da qualidade e não
numa lógica simples de cortar despesa. Os mega-agrupamentos, as turmas com 30
alunos, uma reforma curricular feita assente em euros e não em ajustamentos
significativos da extensão e conteúdos, a insuficiente trajectória de promoção
da autonomia e responsabilização das escolas por processos e recursos, a
inexistência de apoios às dificuldades de alunos e professores, por exemplo, são
fortes condicionantes à qualidade dos resultados.
O nosso sistema é ainda, os
resultados dos rankings sazonais, mostram-no e o Estudo do Banco de Portugal
também, profundamente assimétrico e com desigualdades gritantes em termos de
contextos sociogeográficos de funcionamento das escolas. Estas assimetrias, não
sendo acauteladas, por discriminação positiva, autoalimentam-se e eternizam-se,
servindo de base às desigualdades sociais.
A cultura instalada
exclusivamente orientada para resultados, omitindo intencionalmente, por
negligência ou por incompetência a importância dos processos e as variáveis
complexas que os envolvem, produzirá políticas que sendo mais baratas no
imediato, podem, a prazo, sair caras, levando-nos a piores resultados mas então
já a gastar menos. É uma opção.
Sem comentários:
Enviar um comentário