sábado, 21 de dezembro de 2013

UM PAÍS DE RASPADORES. Uns raspam-se daqui, os que ficam desatam a raspar


A subida da receita das chamadas "raspadinha" vai determinar mais um recorde de investimento dos portugueses nos jogos sociais. O país transformou-se num país de raspadores, uns raspam-se daqui para fora à procura do futuro, os que ficam desataram a raspar à cata de uns euros que contribuam para a sobrevivência.
Parece que mais do que nunca o futuro está na sorte, no raspar, no jogar. No entanto, acho curiosa esta atitude e a justificação que se ouve recorrentemente.
Na verdade, julgo que se pode afirmar que em muitos lares portugueses, e não só, hoje mais do que nunca, uma das frases mais ouvidas é “nunca mais me sai o euromilhões, para deixar de trabalhar”. Cada um de nós já ouviu, pensou ou disse esta expressão alguma vez ou vezes. Creio também que não é usada apenas pelos cidadãos com maiores dificuldades. Acho curiosa a sua utilização. Entendo, naturalmente, a ideia subjacente à primeira parte. Um prémio de valor substantivo representaria, seguramente, a hipótese de acesso a um patamar superior de bem-estar económico, desejado, naturalmente, por toda a gente. O que de facto me parece mais interessante é o complemento “para deixar de trabalhar”. É certo que nem todas as expressões devem ser entendidas no seu valor “facial”, mas é também verdade que a recorrente afirmação deste desejo acaba por ilustrar a relação que muitos de nós estabelecemos com o lado profissional da nossa vida, isto é, “quero livrar-me dele o mais depressa possível”. Não será grave, mas é um indicador que possibilita várias leituras.
Sabem qual é a minha inquietação? É se os miúdos, considerando a agitação que vai pelo seu mundo “laboral”, desatam a pedir um aumento de mesada que lhes permita apostar no euromilhões para … deixar de ir à escola.
Já estivemos mais longe.

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