Num espaço desta natureza e objectivos não cabe a análise aprofundada a uma
matéria tão importante como o Relatório do Estudo PISA ontem divulgado e a que
já me referi. Retomo algumas notas telegráficas recomendando a leitura e
reflexão atenta sobre os resultados e análises produzidas.
Em síntese, considerando a participação dos alunos portugueses nas avaliações
do PISA, são de registar, tal como a OCDE faz, melhorias significativas nos
resultados nas diferentes áreas em avaliação durante as várias edições do Estudo.
Acontece que estas melhorias se registaram sobretudo até à edição de 2009,
ou seja, de 2009 para 2012 os resultados tendem a estagnar ou a baixar o que me
parece merecer séria reflexão.
Por outro lado, a OCDE mostra ainda através da análise dos resultados
escolares que o modelo que muitos advogam, o "chumbo" é a fonte do
sucesso, não funciona, como sempre tenho afirmado. A ideia de que "de
tanto chumbares, um dia aprendes" é um erro profundo que os dados
evidenciam.
Uma outra constatação que não traz surpresa prende-se com a marca social do
insucesso, ou seja, os alunos com menos sucesso são, evidentemente, os alunos
com famílias de nível social, cultural e económico mais baixo. Acresce que os
tempos que vivemos e viveremos nos próximos anos com cortes nos dispositivos de
acção social são uma agravante neste contexto o que solicitaria modelos de
apoio adequados e diversificados que não se vislumbram.
Considerando este cenário e como ontem referia, temo que algumas das mais
significativas medidas da política educativa em vigor tenham reflexos negativos
no que já foi conseguido e sejam pouco eficazes ou nulas no que ainda está por
fazer.
Os cortes sucessivos de professores, que inibem a criação de apoios
eficazes e adequados ao trabalho de alunos e professores de forma a aumentar a
probabilidade de sucesso e minimizar o ineficaz chumbo, fazem parte destas
minhas reservas.
Acresce a este cenário o aumento do número de alunos por turma que, apesar
das comparações impossíveis de sustentar com países asiáticos, por exemplo, num
sistema educativo com as características do nosso são uma variável importante
na qualidade e sucesso do trabalho de professores e alunos como qualquer pessoa
conhecedora das escolas públicas portuguesas reconhece.
O recurso precoce a modelos de ensino vocacional destinados
privilegiadamente a alunos com insucesso, aliás, questionado pela OCDE e UNESCO,
e que o MEC teima em prosseguir não combatem as desigualdades sociais, pelo
contrário, alimentam-nas.
Também o sentido pouco claro e sustentado das mudanças curriculares, designadamente
em Matemática, com a mudança de programas com pouco tempo de validade e sem
avaliação que o justificasse, promovendo um processo e conteúdos que a muitos
professores levantam sérias reservas, pode constituir uma ameaça à qualidade
das aprendizagens e do ensino. Ainda neste campo, a excessiva centração nos
resultados através da criação para quase todas as disciplinas de um modelo de
metas curriculares, de uma inacreditável extensão e conteúdos que transforma a
acção dos professores na administração de uma "checklist" de
conteúdos, dificultará a acomodação nas salas de aulas das diferenças entre os
alunos a que se junta, como referi, a dificuldade em estruturar dispositivos de
apoio o que me parecer constituir também uma preocupação.
O MEC insiste, veja-se as declarações do Secretário de Estado João Granjo, na relação mágica com os exames como fonte de
qualidade tanto que agora os estendeu aos professores através da sinistra Prova
de Avaliação. O MEC parece acreditar que se medir a febre muitas vezes ela
acabará por baixar o que, evidentemente, não acontece.
Uma nota final para uma preocupação com uma matéria que parecendo menos
tangível assume, do meu ponto de vista, uma importância significativa como
muitos estudos referem, o clima instalado nas escolas. De facto, nos últimos
tempos deteriorou-se de forma muito nítida o ambiente que se vive na educação,
com alterações sucessivas e sem rumo, processos incompetentes e à deriva, a colocação
de professores foi apenas um exemplo, cortes nos funcionários e nos efectivos
de professores, com docentes a lidar com demasiados alunos e demasiadas e
enormes turmas de diferentes escolas, direcções escolares entaladas entre a
deriva e incompetência do MEC e as dificuldades de professores, pais e
funcionários, a recente e insultuosa Prova de Avaliação, os discursos sobre as
necessidades de professores, etc., etc.
O clima instalado é de facto pouco favorável à qualidade do trabalho de
alunos e professores.
Como ontem dizia, creio que professores e alunos têm vindo a fazer a parte
que lhes cabe com resultados encorajadores. O MEC está a fazer mal o que lhe
compete e a agenda que transparece dos discursos e medidas não permite,
lamentavelmente, grande optimismo, é o futuro que está em jogo.
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