sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

CRATO DISSE O QUE DISSE MAS DIZ QUE NÃO DISSE O QUE DISSE. UMA "CONJECTURÁVEL AMBIGUIDADE"

Ainda na sequência da patética e perturbada entrevista de Nuno Crato na altura da sinistra Prova de Avaliação de Conhecimentos (?!) e Capacidades (!?), a Associação de Reflexão e Intervenção na Política Educativa das Escolas Superiores de Educação promove uma reunião no sentido de preparar uma reacção às declarações do Ministro da Examinação que, ao que parece, poderá passar por um pedido de demissão do Ministro.
Se bem se recordam, aflito com a justificação do injustificável, Nuno Crato começou a disparar de forma irresponsável sobre a formação de professores, área que manifestamente ignora. O seu aval e defesa de uma Prova que não tem rigorosamente a ver com Conhecimentos e Capacidades para o exercício da função de professor é, evidentemente, um atestado dessa ignorância.
Mas Crato foi um pouco mais longe, recorreu ao velho princípio de dividir para reinar, afirmou que a formação de professores nas Escolas Superiores de Educação é de pior qualidade que a das Universidades, outra enormidade. Na mesma linha, tinha realizado há dias um negócio manhoso com a FNE dividindo os professores contratados em dois grupos, um dos quais, os “mais de 5 anos de experiência”, ficou isento da sinistra Prova, uma manobra mais uma vez sem sustentação sólida.
Como referi, de uma assentada, Crato reduziu a zero o trabalho que os Politécnicos e as Universidades realizam, ainda que estas sejam um pouco melhor, mas, sobretudo, desacreditou incompreensivelmente o trabalho da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior cujo trabalho de avaliação é reconhecido.
Sublinho, sempre o tenho afirmado, que a minhas notas não significam que tudo esteja bem na formação de professores, longe disso, mas este não é caminho, tal como não o é a metodologia de revisão já imposta pelo MEC.
O Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos face a esta irresponsável e não sustentada apreciação solicitou ao Primeiro-ministro a demissão de Nuno Crato. O Ministro achou incompreensível o pedido de demissão, considerando que se tratou do "aproveitamento despropositado de uma conjecturável ambiguidade". 
Está certo, Nuno Crato afirmou que as licenciaturas das ESEs não merecem confiança mas isto é uma "conjecturável ambiguidade" entendem?
O Ministro volta a não acertar, produz em público um conjunto de apreciações sobre o trabalho das ESEs que não poderia fazer desta forma e sem que estivesse devidadamente sustentado por avaliações sólidas que contrariassem o trabalho da A3ES e afirma que se tratou de uma “conjecturável ambiguidade”, seja lá isto o que for.
Não, Nuno Crato, certamente perturbado pela “normalidade” com que a sinistra Prova tinha corrido, com cerca de metade dos professores inscritos a não realizá-la, um clima nas escolas completamente alterado, professores enxovalhados e humilhados “esticou-se”, como diz o povo, afirmou o que não podia ter afirmado.
Acontece que pessoas com espinha, como falava o meu Pai, com dimensão ética, com seriedade intelectual, quando erram, assumem.
Confesso, no entanto, que a minha expectativa é baixa, esta gente não tem espinha, como não tem dúvidas.

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