Entre os Secretários de Estado que hoje vão tomar posse num
novo processo de restyling do Governo que não das políticas, destaca-se um nome,
o de João Almeida, o novo Secretário de Estado da Administração Interna.
Parece-me uma excelente escolha, assente num extensíssimo e sólido currículo académico e
profissional de que se destacam ter sido, claro, dirigente da "jota" centrista, adjunto da Vereadora da Câmara de
Lisboa, Maria José Nogueira Pinto, Secretário-geral do CDS-PP, Presidente do
Clube de Futebol “Os Belenenses”, porta-voz do CDS-PP, actualmente é deputado
do mesmo partido, uff, cansa só de ler.
Algumas pessoas mal intencionadas ou invejosas, pecado muito
feio diga-se, podem achar que esta nomeação, justa e merecida, sublinho, se
deverá a uma das formas mais eficazes de progressão social e profissional
existentes em Portugal, a pertença a uma juventude partidária, sobretudo,
naturalmente, nos partidos do chamado arco do poder. É verdade que existe um
grupinho bastante numeroso, de rapaziada ainda novinha, sem currículo
relevante, académico ou profissional que enxameia gabinetes ministeriais. Como
característica comum têm a pertença à "sua" jota onde desempenharam
cargos que os catapultam para assessores ou deputados e são o início de uma
bela e promissora carreira, numa despudorada utilização da administração
pública, central, local e empresarial para a distribuição de alguns jobs para
os promissores boys e girls. Apesar de João Almeida estar acima de qualquer
suspeita, dado o seu trajecto, a sociedade portuguesa está cheia de exemplos
deste tipo de percursos nas suas diferentes fases.
Um deles é a história do meu amigo Alpinista. Nasceu numa
terra pequena onde muita gente gostava de praticar a subida, na vida, é claro.
Uns conseguiam subir alguma coisa, outros nem tanto, mas tinham pena.
O Alpinista, foi um rapaz discreto sem de início revelar
algumas especiais capacidades ou dotes que o habilitassem ao sucesso, subir na
vida. No entanto, tinha alguma capacidade discursiva, era perspicaz e
assertivo, conseguia perceber sem grande dificuldade o caminho a seguir e
fazia-o de forma convicta.
Durante a adolescência e olhando para o que se passava
naquela terra, tudo o que era lugares importantes eram ocupados de acordo com o
aparelho partidário do partido que ocupasse o poder naquela altura e
verificando que outros lugares exigiriam um mérito a que ele não acederia
rapidamente, decidiu-se pela via partidária. Analisou a oferta e optou pelo
partido que lhe pareceu com maior probabilidade de ocupar o poder durante mais
tempo inscrevendo-se na juventude partidária. Diligentemente o Alpinista
cumpria as tarefas que lhe eram cometidas e com a sua capacidade discursiva foi
subindo na hierarquia, tendo chegado a um patamar que lhe garantiu um lugar nas
listas de deputados em representação da juventude. Entretanto inscreveu-se numa
daquelas universidades em que a exigência em certos cursos, sobretudo para
figuras de algum relevo público, não é muito grande, mas que, para compensar,
as notas são mais altas e passou a Dr. Alpinista. O bom desempenho no aparelho
do partido e a fidelidade canina no Parlamento, levaram-no a uma irrelevante
Secretaria de Estado durante alguns mandatos. A sua acção, socialmente
insignificante, mas partidariamente relevante, valeu-lhe, à saída do Governo,
um lugar na administração de uma empresa de capitais públicos de uma área que
ignorava por completo.
Alguns anos depois, poucos naturalmente, o Alpinista reformou-se,
retirando-se para uma das propriedades que faziam parte do património que
entretanto tinha adquirido e dedicou-se à escrita.
O livro que produziu, autobiográfico, rapidamente se
transformou num enorme sucesso, tem por título, “O Manual do Alpinista” e
consta obrigatoriamente das bibliografias distribuídas nas Universidades de
Verão dos diversos partidos.
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