Lê-se no Público que segundo o Economist Intelligence Unit,
um think tank independente do grupo da revista Economist que
se dedica à pesquisa, previsão e análise económica, Portugal integra o grupo
dos países com “alto risco” de agitação social no próximo ano, quando há cinco
anos tinha uma classificação de “risco moderado”. Recordo que segundo a mesma estrutura,
no seu Índice da Democracia 2011, Portugal passou da situação democracia plena
para uma democracia com falhas, o que segundo a análise realizada se deveu
sobretudo à erosão da soberania associada à crise da zona euro.
A apreciação do risco decorre da consideração de factores de
risco que para além das dificuldades económicas dos cidadãos e de acontecimentos e manifestações recentes, incluem a
percepção de forte desigualdade nos rendimentos, baixos níveis de apoios
sociais ou “a erosão da confiança nos governos e nas instituições: a crise da
democracia”.
Na verdade, é reconhecido que a instalação de uma clima de
desconfiança face ao poder e ao futuro e a desesperança em mudanças
significativas em tempo útil, em cima de situações como desemprego, por
exemplo, podem provocar níveis de sofrimento que potenciem fenómenos reactivos
de natureza grupal ou individual de natureza agressiva mais extremados e
dirigidos a terceiros, os identificados como responsáveis, caso dos ocupantes
da cargos políticos de relevo, ou mesmo dirigidos contra si próprio através do
suicídio, como também se tem verificado.
Dito de outra maneira, os comportamentos correm o risco de
forma cada vez mais intensa conterem cargas emocionais que potenciam o seu
descontrolo. Aliás, se bem atentarmos nos testemunhos recolhidos em
manifestações ou protestos é bastante clara a carga emocional que envolve os
comportamentos observados e que se traduzem em comportamentos extremados como
verificamos na Grécia, em Espanha ou no extremo do recurso à tragédia das
imolações ou do suicídio como forma de protesto.
Assim, um contexto de situações de desemprego, pobreza e
exclusão percebido como resultantes de decisões políticas é fortemente
perturbador das pessoas e ajuda a explicar o aumento significativo dos casos de
perturbações depressivas ou da ansiedade que tem sido relatado ou de comportamentos de natureza mais
agressiva.
Se a tudo isto ainda juntarmos sucessivas declarações,
algumas inaceitáveis e insultuosas, de pessoas com funções públicas de relevo,
está criado um caldo de cultura potencialmente explosivo e onde facilmente
germinam os excessos.
É frequente a afirmação de que somos um povo de brandos costumes.
A questão é que, como dizia Camões, todo o mundo é composto de mudança, tomando
sempre novas qualidades. Um dia podemos cansar-nos de ser bons rapazes.
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