sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

OS VENTOS QUE PODEM TRAZER TEMPESTADES

Lê-se no Público que segundo o Economist Intelligence Unit, um think tank independente do grupo da revista Economist que se dedica à pesquisa, previsão e análise económica, Portugal integra o grupo dos países com “alto risco” de agitação social no próximo ano, quando há cinco anos tinha uma classificação de “risco moderado”. Recordo que segundo a mesma estrutura, no seu Índice da Democracia 2011, Portugal passou da situação democracia plena para uma democracia com falhas, o que segundo a análise realizada se deveu sobretudo à erosão da soberania associada à crise da zona euro.
A apreciação do risco decorre da consideração de factores de risco que para além das dificuldades económicas dos cidadãos e de acontecimentos e manifestações recentes, incluem a percepção de forte desigualdade nos rendimentos, baixos níveis de apoios sociais ou “a erosão da confiança nos governos e nas instituições: a crise da democracia”.
Na verdade, é reconhecido que a instalação de uma clima de desconfiança face ao poder e ao futuro e a desesperança em mudanças significativas em tempo útil, em cima de situações como desemprego, por exemplo, podem provocar níveis de sofrimento que potenciem fenómenos reactivos de natureza grupal ou individual de natureza agressiva mais extremados e dirigidos a terceiros, os identificados como responsáveis, caso dos ocupantes da cargos políticos de relevo, ou mesmo dirigidos contra si próprio através do suicídio, como também se tem verificado.
Dito de outra maneira, os comportamentos correm o risco de forma cada vez mais intensa conterem cargas emocionais que potenciam o seu descontrolo. Aliás, se bem atentarmos nos testemunhos recolhidos em manifestações ou protestos é bastante clara a carga emocional que envolve os comportamentos observados e que se traduzem em comportamentos extremados como verificamos na Grécia, em Espanha ou no extremo do recurso à tragédia das imolações ou do suicídio como forma de protesto.
Assim, um contexto de situações de desemprego, pobreza e exclusão percebido como resultantes de decisões políticas é fortemente perturbador das pessoas e ajuda a explicar o aumento significativo dos casos de perturbações depressivas ou da ansiedade que tem sido relatado ou de comportamentos de natureza mais agressiva.
Se a tudo isto ainda juntarmos sucessivas declarações, algumas inaceitáveis e insultuosas, de pessoas com funções públicas de relevo, está criado um caldo de cultura potencialmente explosivo e onde facilmente germinam os excessos.
É frequente a afirmação de que somos um povo de brandos costumes. A questão é que, como dizia Camões, todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Um dia podemos cansar-nos de ser bons rapazes.

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