Um estudo
internacional hoje divulgado mostra que Portugal é o país da Europa,
entre os analisados, em que as pessoas mais revelam desejo de emigrar, sendo que
57% dos jovens portugueses, dos 15 aos 24 anos, mostraram essa intenção.
A maioria refere a
busca de um emprego. É ainda relevante que em termos globais, 40% da
população em idade activa admite sair do país.
Recordo que há dias o Primeiro-ministro, em intervenção
pública, lamentou que tantos jovens qualificados, em que o país deposita tanta
esperança, tenham que emigrar em busca de realização profissional. É verdade
que também me recordo de intervenções de incentivo à emigração qualificada
produzidas por Passos Coelho e do Ex-Ministro Miguel Relvas dirigidas, por
exemplo, a professores e jovens qualificados. Os discursos políticos têm esta
virtude, a elasticidade, por assim dizer.
É evidente que o volume de emigração jovem e
qualificada é lamentável, mas o Primeiro-ministro e todas as lideranças
políticas com responsabilidade na situação actual não podem, como o povo diz,
fazer o mal e a caramunha. Esta situação, destruição do emprego, precariedade,
etc., que se justificam com a "crise", resultam de políticas e
modelos económicos que estão por detrás da crise e dos impactos que tem na vida
das pessoas.
Segundo dados da OCDE relativos a fluxos
migratórios, a emigração de portugueses para países fora da União Europeia
aumentou mais do triplo entre 2010 e 2011, sendo que a organização estima que
os números pequem por defeito.
Em termos mais globais, considerando também os
países da UE para onde também tem subido exponencialmente a emigração
portuguesa, em Janeiro, o Secretário de Estado das Comunidades afirmava que nos
últimos dois anos terão emigrado cerca de 200 000 portugueses, 120 000 em 2012, estimando que em
2013 os números sejam da mesma ordem de grandeza. É também conhecido que, a par
da Irlanda, somos o país de onde sai gente com maior qualificação o que exige
ainda maior reflexão pelas consequências previsíveis, estimando-se em 100 000
os jovens, sobretudo qualificados, que estão a sair do país, emigrando para
outras paragens o que tem um custo brutal, avaliado em cerca de 2 700 milhões
de euros, 1,57 % do PIB.
A emigração parece assim constituir-se como via
quase exclusiva para aceder a um futuro onde caiba um projecto de vida positivo
e viável como tem vindo a verificar-se.
Aliás, alguns inquéritos junto de estudantes
universitários mostram como muitos admitem emigrar em busca de melhores condições
de realização pessoal e profissional apesar de muitos afirmarem que pretendem
voltar.
Somos um país de emigrantes de há séculos pelo
que este movimento de partida, só por si, não será de estranhar. No entanto,
creio que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a emigração se
realizava na busca de melhores condições de vida, a agora a emigração
realiza-se à procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens não tem
condições de vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de qualquer
coisa. Este vazio que aqui se sente é angustiante, sobretudo para quem está
começar, se sente qualificado e com o desejo de construção de um projecto de
vida viável e bem sucedido.
De todo este cenário, resulta o retrato de um
país pobre, envelhecido, onde poucos querem fazer nascer crianças, donde muitas
pessoas partem, fogem, à procura de uma vida que aqui lhes parece inacessível.
E o futuro? O futuro não mora aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário