terça-feira, 3 de dezembro de 2013

PONHAM-SE A ANDAR, SEMPRE FICAM UNS LUGARES PARA OS "DESCARTÁVEIS"

Depois da anunciada pressão para acelerar os processos de reforma requeridos pelos professores teve início o programa de "rescisões amigáveis" (o termo é ofensivo) também extensivo aos docentes e que terá já cativado cerca de 300 professores. Estes processos são recorrentemente referidos pelo MEC como forma de evitar que alguns dos "descartáveis" fiquem na mobilidade especial, perdão, na requalificação, perdão no desemprego, o que me causa sempre algum embraço.
Lembrar-se-ão de uma primeira referência de Nuno Crato a uma esperada vaga de aposentações que minimizaria o risco dos insultuosos "horários zero" e do seu ajudante o Secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, Casanova de Almeida, afirmar uns dias depois que o Governo iria pedir que fosse acelerada a apreciação dos pedidos de reforma já apresentados o que “permitirá criar seis mil horários”, o que, de acordo com  a tradição das contas em modo MEC, não acontecerá de todo.
Parece-me de recordar que boa parte das aposentações de professores ou de eventuais rescisões "amigáveis" tem sido e será de pessoas que não aguentam o clima e as condições de trabalho que a PEC - Política Educativa em Curso e as questões profissionais decorrentes das políticas de austeridade que têm tido como alvo privilegiado os funcionários da administração têm imposto, pelo que solicitam a aposentação com perdas significativas de rendimentos e muitos lamentando as circunstâncias em que o fazem.
Referir sistematicamente a situação da aposentação como instrumento de gestão privilegiada, além do exemplo de planificação rigorosa e revelar incompetência, nada garante que o perfil dos professores que se aposentam corresponda ao perfil de necessidades do sistema parece-me ainda, para ser simpático, de uma enorme elegância e simpatia, "como alguns estão velhos e cansados" os mais novos sem trabalho estão "safos".
No fundo, a mensagem será, os professores que estão a ser cortados, não porque não tenham trabalho, mas porque as políticas os tornam descartáveis, deverão pressionar os seus colegas mais velhos a porem-se a andar para conseguir, assim, um lugar.  
Percebe-se melhor a política de recursos humanos e contabilidade do MEC, criam-se as condições para que os mais velhos e caros, evidentemente, peçam para sair, muitas vezes com custos pessoais elevados, acelera-se a tramitação da reforma e arranjam-se uns empregos.
Não consigo entender estes discursos e políticas.
Se este entendimento faz escola lá virá, de novo, a ideia de sugerir a emigração para que os que cá fiquem tenham mais facilmente trabalho e se poupe ainda mais em subsídios de desemprego e apoios sociais e o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social promoverá, discretamente já se vê, a partida dos velhos para poupar em reformas e pensões, acção a que o Ministério da Saúde dará uma ajuda cortando nos gastos do SNS.
É só ganhos.
O mundo está um lugar estranho.

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