No Público de
hoje é apresentado um trabalho sobre as alterações nas condições de vida dos
idosos, sobretudo, no que respeita às dificuldades que as famílias sentem na
manutenção dos seus velhos em instituições, o recurso crescente à oferta
clandestina e aos maus tratos sofridos pelos velhos nos contextos familiares.
Recordo que há meses a Associação de Apoio Domiciliário de
Lares e Casas de Repouso de Idosos aponta para a existência de 24 mil idosos
"a viver mal", em lares ilegais e casas de acolhimento clandestinas
acentuando que a tendência é de aumento.
Em 2012 foram notificadas para encerramento 80
instituições. Destas, 10 foram encerradas compulsivamente e a Associação refere
como problemas a fiscalização insuficiente e a impunidade dos responsáveis
levando que alguns, depois de verem encerradas algumas instalações,
"deslocalizam-nas" e abram outros espaços por vezes bem próximos ou
até nas antigas instalações. Durante 2013 e até 13 de Dezembro, foram
encerrados 79 lares, 22 dos quais com carácter de urgência devido às degradantes
condições de funcionamento.
Também segundo o Presidente da Associação a situação tende
a agravar-se.
Segundo dados de 2011 existiriam 1972 lares licenciados,
cerca de 1000 em situação ilegal alimentando um mercado que valerá perto dos 40
milhões de euros. É ainda de considerar que teremos perto de um milhão de
portugueses acima dos 75 anos e dado o envelhecimento progressivo, o futuro do
negócio parece assegurado. Aliás, sabe-se que muitas das instituições para
idosos têm longas lista de espera.
Este universo, o acolhimento, institucional ou familiar dos
velhos é uma questão complexa, como complexa e muitas vezes difícil é viver com
a condição de velho.
Um relatório de há um ano, creio, da OMS identificava
Portugal como um dos cinco países europeus em que os velhos sofrem mais
maus-tratos. Cerca de 39,4% dos velhos sofrem alguma forma de maus-tratos, que
envolvem, por exemplo extorsão, abuso psicológico, físico ou negligência. De
facto, nos últimos tempos têm sido recorrentes as notícias sobre os maus-tratos
aos velhos, aos seniores, como agora se diz. Quer no seio das famílias, quer em
instituições, multiplicam-se as referências à forma inaceitável como os velhos
estão a ser tratados como o trabalho de hoje no Público retrata. Não é fácil
ser velho.
Começam por ser desconsiderados pelo sistema de segurança
social que com pensões miseráveis, transforma os velhos em pobres, dependentes
e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência. Continua com um sistema de
saúde que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e apoio, sem
médico de família.
Em muitas circunstâncias, as famílias, seja pelos valores,
seja pelas suas próprias dificuldades e estilos de vida, não se constituem como
um porto de abrigo, sendo parte significativa do problema e não da solução
produzindo cada vez mais situações de solidão e isolamento entre os velhos, com
consequências que têm feito manchetes, muitos velhos morrem de sozinhismo, de
solidão. Estão em extinção as relações de vizinhança e a vivência comunitária,
fontes privilegiadas de protecção dos mais velhos.
É certo que existe, felizmente, um pequeno número de idosos
que além do apoio familiar, ainda possuem meios que lhes permitem aceder a bens
e equipamentos que contribuem para uma desejável e merecida qualidade de vida
no fim da sua estrada.
Finalmente, as instituições, muitas delas, subordinam-se ao
lucro e escudam-se numa insuficiente fiscalização não oferecendo a qualidade
exigida. Por outro lado, os equipamentos de qualidade são inacessíveis aos
rendimentos de muitos dos nossos velhos.
Lamentavelmente, boa parte dos velhos, sofreu para chegar a
velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma narrativa.
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