O Público, na revista de hoje, apresenta um extenso e
interessante trabalho sobre o recurso às cantinas escolares em tempo de férias.
Do trabalho releva que embora existam crianças que recorrem às cantinas
escolares porque frequentam nas escolas Actividades de Tempo Livres, dado que
as famílias não têm como resolver o problema da guarda dos miúdos enquanto trabalham,
boa parte das crianças e adolescentes encontram na cantina escolar a única
refeição consistente e equilibrada a que acedem.
Como se sabe, as carências alimentares atingem muitíssimas
famílias, o próprio MEC procurou responder através do PERA - Programa Escolar
de Reforço Alimentar, durante o último ano lectivo, são múltiplas as situações
de crianças a chegar à escola sem alimentação, sendo que as únicas refeições
que a que acedem são as que as escolas proporcionam o que também tem levado
justamente inúmeras autarquias a manter abertas nas férias a cantinas escolares
o que sustentou o trabalho do Público.
O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das
crianças e em aspectos mais particulares no rendimento escolar e comportamento
é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos
mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente
negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades
básicas.
É também reconhecido que as crianças constituem um dos
grupos mais vulneráveis e que sofrem maiores consequências das dificuldades
sentidas nas suas comunidades e famílias.
Em Maio, um Relatório, "Food for Thought", da
organização Save the Children, afirmava que 25% das crianças do terão o seu
desempenho escolar em risco devido à malnutrição com as óbvias e pesadas
consequências em termos de qualificação e qualidade de vida de que a educação é
uma ferramenta essencial.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências,
não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais
referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade
social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias sempre me lembro da história,
umas das maiores lições que já recebi e que já contei várias vezes e que me
aconteceu há uns anos em Inhambane, Moçambique. Ao passar por uma escola para
gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda
durante a estadia por lá, me dizer que se mandasse traria um camião de
batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza, explicou que
aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o
Velho Bata.
Pois é Velho, putos com fome não aprendem e vão continuar
pobres.
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