Ao que parece os “independentes”
que ganharam eleições autárquicas exigem alterações à Lei Eleitoral Autárquica
que “beneficia escandalosamente os partidos”, pois entendem que estão “mais
livres” para as suas competências face aos cidadãos e acusam as “máquinas"
partidárias de tomarem conta dos lugares.
Uma primeira nota,
para registar que a maioria destes “independentes” se apresentaram às eleições
enquanto tal por não terem sido objecto de escolha dos partidos a que
pertenciam ou em situação de litígio, ou seja, se tivessem sido os escolhidos ou
não tivessem tido algum desaguisado partidário ter-se-iam candidatado pelo “partidinho”
e, provavelmente, agora estariam calados. Esta nota não retira a importância de
candidaturas e resultados como o de Rui Moreira no Porto que impôs uma
estrondosa derrota a um “aparelhista” encartado como Luís Filipe Menezes.
No entanto, é
verdade que, muitas vezes o tenho escrito, no actual quadro
político-administrativo é muito difícil a intervenção cívica, no sentido político,
fora da tutela dos aparelhos partidários cuja praxis e discursos criaram um
partidocracia que minou a confiança e tem provocado o afastamento dos cidadãos pelo que se percebe a afirmação da necessidade de mudança.
Verifica-se também que a capacidade de mobilização dos
partidos se dirige, sobretudo, a uma minoria de pessoas que emerge dos respectivos
aparelhos que, assim, podem aceder e manter alguma forma de poder e a uma
maioria que enche autocarros, recebe uns brindes e tem um almocinho de borla. A
partidocracia não atrai porque os partidos se tornam donos da
consciência política das pessoas, veja-se o espectáculo deprimente da
Assembleia da República, salvo honrosas excepções vota-se o que o partido
manda, independentemente da consciência.
Reconhece-se hoje que as camadas mais novas, sobretudo mas
não só, atravessam uma complexa situação envolvendo os valores, a confiança nos
projectos de vida, os estilos de vida, etc. Neste quadro, a adesão à
intervenção política, tal como se verifica genericamente em Portugal, parece
mais uma parte do problema, é velha a partidocracia para responder a problemas
novos, que um caminho para a solução.
Creio que o descontentamento e desconfiança de muitos dos
cidadãos, traduzidos em percentagens de abstenção acima dos 50%, mostram que
importa pensar numa participação política para lá dos partidos, várias
manifestações com grande mobilização que escaparam à lógica da partidocracia,
bem como iniciativas de grupos de cidadãos mobilizados por causas ou algumas candidaturas
verdadeiramente fora do espectro partidário, dão sinais nesse sentido.
De tudo isto resulta, como muitas vezes refiro, o afastamento
das pessoas pelo que a construção de outras formas de participação cívica
parece ser a única forma possível de reformar o quadro político que temos, ou
seja, os partidos ou definham ou mudam, pela pressão do exterior.
Existe, tem que existir política para além dos partidos, que
se reformam ou tenderão a implodir com riscos para própria democracia cuja
saúde já está debilitada.
De qualquer forma, como se diz aqui no Meu Alentejo, deixe
lá ver.
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